Durante minha trajetória
profissional, trabalhei na equipe de um grande Líder com quem aprendi muito.
Quando acontecia algo absurdo que, na visão dele, representava uma grande perda
de foco e de tempo, ele dizia: “prestamos tanta atenção às formigas, que não
percebemos a passagem dos elefantes. ”
Fico imaginando como não perceber
a passagem de elefantes..., mas o fato é que eles passam, estão passando e já
passaram. E a gente nem percebeu, realmente.
Obviamente que dar atenção às
formigas é fundamental. Elas também fazem a diferença. E apesar de seu pequeno
tamanho, suas obras são imensas. Mas naquele momento, ele chamava a atenção para
o fato de que as formigas estavam bem cuidadas e encaminhadas, mas os elefantes
não. As formigas estavam à mostra. Mas os elefantes não. As formigas se mostravam
e faziam questão de dizer que estavam passando. Mas os elefantes não.
Formigas e elefantes: dois lados
que dão conta das nossas questões e nos chamam a refletir. Mas quem está com
boa vontade e disposição para esta conversa?
Ver e perceber as formigas é muito
mais fácil. Organizadas, perfeccionistas e previsíveis, no bom sentido. Então,
como não perceber que elas estão lá?
As formigas não se escondem. Mostram-se e o caminho delas é conhecido.
No entanto, os elefantes, mudam
suas rotas ao primeiro sinal de perigo. São fortes. Atacam e constroem caminhos
alternativos para despistarem os inimigos. Vivem em localidades de difícil
acesso e dificultam, ao máximo, a proximidade com o homem.
Os elefantes não se mostram. Escondem-se e isolam-se. O caminho deles não
é conhecido.
Por tudo isto é que aquele Líder,
de verdade, com quem trabalhei, dizia
isto com frequência.
Ter atenção para perceber o que
realmente importa é para poucos. Perceber formigas é essencial. Mas perceber
elefantes é imprescindível. Mas isto é para poucos. Apenas para aqueles cujo
olhar se despojou de percepções inúteis e desnecessárias, livres do preconceito
e das vaidades. E este olhar é para poucos.
A história abaixo, aparentemente
inofensiva e divertida, escrita pelo cronista Sérgio Marcus Rangel Porto, mais
conhecido como Stanislaw Ponte Preta, traduz o que trago neste texto. A
história é sobre a Velha
Contrabandista...
imagem tirada da internet
Havia uma velhinha que sabia
andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira, montada na lambreta, e
carregava um saco atrás. Todos da Alfândega, experientes, começaram a desconfiar dela.
Um dia, quando ela vinha em sua
lambreta, e carregando o saco atrás, o fiscal pediu para ela parar e perguntou:
- Escuta, aqui, vovozinha. A
senhora passa aqui todos os dias, com esse saco atrás. O que a senhora carrega
dentro dele?
A velhinha sorriu com os poucos
dentes que ainda restavam e mais outros que adquirira no odontólogo, e
respondeu:
- Carrego areia!
O fiscal sorriu e não acreditou
nela. Teve a certeza de que ela não carregava areia alguma naquele saco, e
mandou que ela descesse da lambreta para examiná-lo. O fiscal, então, esvaziou
o saco e dentro, realmente, só havia areia. Envergonhado, ordenou à velhinha
que seguisse. E assim ela foi embora.
Mas o fiscal, mesmo assim,
continuou desconfiado. Pensou que ela estivesse passando num dia com areia e no
outro com muambas, dentro daquele saco. No dia seguinte, quando ela passou em
sua lambreta com o saco atrás, o fiscal pediu para ela parar novamente. Perguntou
o que ela levava no saco. E, de novo, ela respondeu que era areia. O fiscal
examinou e confirmou. Durante um mês o fiscal parou a velhinha e, todas as
vezes, o que ela levava no saco era areia.
Aí o fiscal se chateou e disse:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal
de alfândega há 40 anos. Reconheço de longe esta coisa de contrabando. Ninguém
me convence de que a senhora não seja contrabandista.
- Mas no saco só tem areia, insistiu.
Quando ela ameaçou seguir com a
sua lambreta, o fiscal propôs:
- Eu prometo que deixo a senhora
passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora
vai ter que me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui
todos os dias?
- O senhor promete que não
"espaia"?
- Juro, respondeu o fiscal.
- Meu contrabando é a lambreta...
Pois é, quantas lambretas não
deixamos passar por estarmos tão obstinados em descobrirmos o que havia no
saco.
Sabermos onde estão as formigas e
o que há no saco é importante. Faz parte do processo. Mas enquanto estivermos
destinando o nosso olhar apenas para isto, nossos elefantes invisíveis
passarão, montados em lambretas, sem que percebamos a sua passagem. No máximo,
acenaremos para eles, enquanto passarem por nós, como ilustres desconhecidos,
sem sabermos o porquê os cumprimentamos e sem sabermos quem eles são...
Nenhum comentário:
Postar um comentário