terça-feira, 24 de janeiro de 2017

De verdade, Feliz Ano Novo

imagem tirada da internet

Um ano se foi. O outro chegou. Que a gente o receba de braços abertos. Porque braços fechados também recebem, mas que este não seja o nosso caso.

Para que de verdade seja um Feliz Ano é preciso vontade e disposição. Apesar de difícil, está ao alcance de todos nós.

Para muitos, o ano de 2016 passou muito depressa. Somente o depressa não expressa. Mas o muito junto do depressa expressa o real sentimento que ficou sobre 2016, para muitos. Prefiro acreditar que a pressa na qual vivemos é o que fez de 2016 um ano corrido. Uma pressa construída por nós, não pelo ano que se foi. E se não mudarmos esta pressa, que alguém um dia nos disse ser necessária e que, infelizmente acreditamos, o próximo ano, 2017, passará rápido também. Tudo é uma questão de escolha.

O tempo passa normalmente. Mas nós insistimos em apressá-lo. Por isto esta sensação.

Outros se despediram de 2016 com alívio. Afinal, “o ano não foi bom, disseram”. Não é justo responsabilizá-lo por nossas falhas e culpas. Ele nos ofereceu 365 oportunidades de acertarmos. E se assim não se fez, injusto seria culpá-lo.

Independentemente do motivo que nos fez querer que o ano se encerrasse ou não, temos, novamente, 365 novas chances de fazer o que é preciso, de parar de fazer algumas coisas e de continuar a fazer tantas outras. Que possamos sempre esperar o melhor de todo o ano que começa, mas que também, como disse a Mafalda, tenhamos a humildade de entender que o ano também espera o melhor de nós. E qual é o melhor de nós? Somente a gente sabe, mais ninguém. Que possamos, então, colocar tudo isto em prática.

O ano novo, de verdade, é a todo o momento. Não podemos esperar que dezembro e janeiro resolvam todas as nossas questões.

Viver, de verdade, um ano novo é vivê-lo com responsabilidade, sem pressa. Não ter pressa não significa que não estamos fazendo, que não estamos construindo. A construção se dá na calma, na paciência e na contemplação. Mas ter pressa significa passar sem objetividade pelas coisas, sem conteúdo, superficialmente.

Aquele que tem tempo para tudo é quem constrói e realiza. Aquele que corre o tempo todo nada constrói. Apenas fica de olho no relógio.

Carlos Drummond de Andrade, no seu conhecidíssimo poema Receita de Ano Novo, diz:

“Para você ganhar belíssimo Ano Novo...não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, ...

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-la na gaveta...

...nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem...

Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.  É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre. ”

Algumas passagens deste belo poema que destaquei mostram o quão complexa e árdua é a tarefa de construir um ano novo de verdade.

Do que adianta fazer lista de boas intenções e arquivá-la na gaveta, como ele diz? Esta é uma das mais belas reflexões, na minha opinião. Além do encerramento que, lindamente, ele diz que para que o ano novo seja, verdadeiramente, novo, vamos ter de merecê-lo porque, antes de tudo, o ano novo cochila dentro de cada um de nós.

É preciso, portanto, irmos além dos cumprimentos da meia-noite. Há muito o que fazer.

Apesar de os bocejos, um tempo após os cumprimentos, indicarem que está na hora de retirar os pratos da mesa, sabemos que há muito o que fazer.

Quando entendermos que a vida é uma via de mão dupla, que ela dá, mas cobra, e que o trabalho precede o resultado, aí sim, iniciaremos um ano novo.

Que possamos entender que paradigmas existem para serem questionados.

Que possamos pensar melhor. Desta forma, não compraremos gatos por lebres.

Que sejamos impedidos, por nós mesmos, de burocratizarmos as nossas emoções para que elas possam ser sentidas.

Que sejamos autônomos para que possamos, assim, questionarmos as muitas bases hipócritas nas quais nos apoiamos para defendermos o indefensável.

Que aprendamos a não atrapalhar. Assim ajudaremos e muito.

Que sejamos representativos para nós mesmos.

Que a gente não reclame da cobrança se, de verdade, tivemos mais chances e condições.

Que a nossa voz baixa prevaleça em 2017, para que aquele que realmente precisar falar tenha vez e seja ouvido.

Que a palavra renúncia faça mais parte do nosso dia a dia.

Que o palco não seja a nossa única aspiração. Que assistir, muitas vezes, ao espetáculo da vida, da plateia, também nos proporcionará alegrias e realizações.

Que nossas conquistas sejam mais morais do que materiais.

Que o grito ceda lugar à paz.

Que a gente se canse de guerrear.

Que a crueldade comece, de verdade, a nos incomodar. E que o “fazer o quê?” não faça mais parte da nossa fala.

Que a violência passe a ser compreendida como a voz dos incompetentes.

Que a gente não acredite em todos os elogios. E também nem em todas as críticas.

Que sejamos justos com o tempo. Ele sempre comparece. Nós é que insistimos em administrá-lo mal. E depois dizemos que não temos tempo.

Que o nosso tempo também sirva para ouvir a história do outro. Quem sabe, assim, a gente pare de falar somente da gente?

Que a gente se esforce para se lembrar de que criticar é, muitas vezes, destruir.

Que o ano seja de construção forte e resistente, com tijolos que, de verdade, existam.

Que nossas atenções estejam voltadas para o bom combate, como dizia o apóstolo São Paulo.

Que a gente abra mão do ridículo. Pararmos de fingir que estamos dormindo para não cedermos o banco, no metrô, servirá de começo.

Que possamos colocar nossos sonhos nas primeiras prateleiras das nossas vidas. Somente desta forma eles terão espaço para concretização.

Que possamos nos centrar em nós para sabermos o básico, pelo menos.

Que possamos reconhecer as nossas hipocrisias disfarçadas de boas intenções.

Ao ano de 2016, somente nos resta agradecer pela paciência, tolerância e compreensão. Demos muito trabalho a ele. Ao ano de 2017, obrigada por confiar na gente e nos dar mais uma chance para acertarmos. Vamos nos esforçar para não o decepcionar.

Afinal, como diz, novamente, Carlos Drummond de Andrade:

“Mas se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor...

O melhor vai se instalar em nossa vida. Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura. ”

Que tenhamos uma larga visão sempre sobre o melhor para que ele se sinta confortável de se aproximar da gente e, mais que isto, se instalar em nós, como disse o poeta.

Um ano novo, de verdade, a todos!

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