Sempre gostei muito de escrever. Se escrevo bem, não sei, mas o fato é que tenho muitos escritos, pensamentos, insights, frases, poemas, ideias. E tudo isto anotado em vários papéis e cadernos! Num mundo tecnológico, ainda utilizo, e muito, o papel para expressar e tentar construir as minhas ideias. E somente quando elas ganham forma é que vão para o mundo tecnológico. Talvez não seja a forma mais inteligente, afinal eu poderia escrever diretamente no computador, mas a tela inibe...Somente o aconchego da velha caneta e papel compreendem a minha necessidade de usá-los. Aquela coisa de rabiscar, reescrever, jogar, desamassar o papel e aproveitar aquela frase que, num ímpeto de intolerância, rasguei, mas que, graças a Deus (!) rasguei de uma forma que deu para aproveitar. Enfim, doideiras sem explicações. No papel você apaga coisas que são recuperáveis, muitas vezes; já no computador, será mais difícil recuperar, até porque a nossa lixeira eletrônica está sempre limpa e vazia! O imperativo da ordem!
O papel me permite pensar com mais calma, sem pressa. Ele me deixa refletir, fica ali, só me fazendo companhia enquanto coloco minhas ideias nele. O computador é cruel, não me dá tempo para pensar, me apressa o tempo todo com aquele cursor saltitando na tela. A pressa faz você não ver e não pensar sobre questões importantes. Por isto prefiro, enquanto ainda o tempo permitir, a calmaria do papel, que com sua tolerância, vai dando forma aos meus escritos.
Neste espaço vou compartilhar textos escritos por mim sobre as diversas facetas do comportamento humano, suas angústias, alegrias, medos, realizações, paradoxos, contradições, enfim todo o universo que nos cerca, e a minha visão sobre este tema. Vou adorar saber a opinião de vocês.
Tem uma frase que gosto muito, dita pelo Fundador da Revista Time, Henry Luce: “O importante não é o que você coloca na página, mas o que sai da página para a cabeça do leitor”.
Gosto muito desta frase porque ela traduz exatamente o objetivo do meu blog MenteseFrutos: o de compartilhar percepções e conhecimentos e saber o que eles estão despertando e se estão despertando e produzindo algo em nós, que seriam os nossos frutos.
Uma das ideias de o blog se chamar “MenteseFrutos” é a de compartilhar algo com vocês, e frutos serem produzidos a partir disto.
Escolhi um texto de abertura que tem tudo a ver com o propósito do blog: o de compartilhar.
O texto chama-se: Escutatória, de Rubem Alves, que fala sobre a arte de ouvir, um artigo de luxo para os seres humanos (nós!), às vezes não tão humanos assim!
Para quem já teve o prazer de ler Rubem Alves, sabe da relevância deste escritor para o mundo. Infelizmente ele nos deixou em julho de 2014. Além de tudo, um Educador que dispensa apresentações. Para quem tiver a oportunidade, fica aí a dica para conhecer melhor sua obra e suas provocações. Em meio a tantas provocações que ele fez, uma delas foi:
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”
Uma mente brilhante e com frutos incontáveis. O nome do meu blog também não deixa de ser uma singela homenagem a ele.
Boa leitura!
Renata Mathias de Lima
Escutatória
Por Rubem Alves
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade:
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...
Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as ideias estranhas.
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.
Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...
Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência...
E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...
Que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
Obra retirada do livro O amor que acende a lua, de Rubem Alves.
Pois é, escutar realmente é difícil porque implica me calar diante o outro. E me calar significa deixar que o outro fique em evidência, pelo menos enquanto ele falar. E num mundo preocupado com selfies e quantidades de likes, fica, de verdade, complicado deixar o outro se expressar e falar. Rubem Alves tinha toda razão.
Renatinha, adorei ver que conseguiu realizar seu sonho. Grande beijo e sucesso. Ed
ResponderExcluirRenatinha, adorei ver que realizou seu sonho. Grande beijo e sucesso. Ed
ResponderExcluirO esforço traz recompenças. Perceber que tudo na vida depende única e exclusivamente da nossa vontade, do nosso esforço e principalmente da nossa educação. Parabéns minha irmã por este espaço tão valioso. Espero que continue a inspirar muitas pessoas com seus bons exemplos. Sucesso sempre!!!
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