domingo, 10 de maio de 2015

Macaco ou elefante: quem te representa?


Acho que são os dois. Ora estamos no trapézio; ora nos soltamos dele. Mas tem um momento, muito particular, que não fazemos nem uma coisa nem outra: aquele no qual não nos soltamos (porque não acreditamos que alguém ou algo nos sustentará), ou não seguramos algo ou alguém porque não nos achamos capazes. E é nesta hora que o pessimismo entra em cena. Portanto, acho que faltou um animal na imagem que representasse isto.

Temos o macaco dizendo: “Venha, não tenha medo. Eu seguro você. Pode confiar em mim. ” Vocês repararam na carinha feliz dele? E temos também o elefante dizendo: “fui! ” E foi mesmo, sem pensar duas vezes.  Ambos otimistas.

Quando olho esta imagem, é inegável a vontade de rir. Rir do absurdo que ela representa, afinal como um macaco franzino poderia segurar um elefante? Mas logo o riso passa e vejo que a imagem tem muito mais a nos provocar e a nos oferecer do que um simples riso. O humor e o riso são maravilhosos porque introduzem com eficácia qualquer aprendizado que se queira fazer, mas em primeiro momento. Porque depois, é hora de aprofundar e refletir.

Otimismo x Pessimismo. Dois lados que se opõem. Dois lados que se completam. Ora estamos no trapézio ora a vida nos pede para soltá-lo.

Num mundo de dualidade e de contradições como o nosso, ter a consciência de que ora estaremos lá ou ora estaremos cá, é uma questão de sobrevivência. Não adianta questionar a vida, como fazemos muitas vezes. Há vezes que receberemos respostas; há vezes em que precisaremos subir ou descer do trapézio para encontrá-las. E aí a certeza do macaco e a confiança do elefante nos ajudarão muito, podem apostar que sim.

Pessimismo e otimismo possuem o mesmo sufixo “ismo”. E o que isto significa?

Há vários significados para este sufixo, não podemos generalizar. Etimologicamente ele vem do grego e significa um sistema de crenças, uma ideologia, um sistema a ser seguido, algo em que se acredita. Porém, na Medicina significa patologia, uma doença. E aí começa uma pequena confusão: porque nem sempre o “ismo” da ideologia (por exemplo: Cristianismo) poderá ser confundido com o “ismo” de doença, por exemplo: alcoolismo (dependência química do álcool). São coisas distintas. Esta confusão traz entendimento errado que por sua vez, traz comportamentos equivocados.

Vejamos o termo homossexualismo. Outra confusão. Erroneamente era tratado como patologia, doença, o que já deixou de ser visto assim pela Medicina na década de 80. Tanto isto é verdade que o termo foi mudado para homossexualidade. Mudou-se, portanto, o sufixo "ismo" para “idade”, que significa modo de ser, comportamento. Daí os termos maldade, lealdade, igualdade e por aí vai.

Mas por que falar disto, de sufixos? Apenas para lembrar o quanto a nossa Língua é rica e o quanto vale a pena se aprofundar no seu conhecimento para saber o que estamos falando. E isto nos ajudará a compreender, então, que otimismo e pessimismo são um sistema de crenças, algo em que se acredita. E o nosso sistema de crenças explica muita coisa.

Quando chamarmos alguém de otimista ou de pessimista, ou quando nos classificarmos de tal forma, será inerente considerar que a pessoa agiu desta forma não somente por ser A ou B, otimista ou pessimista, mas sim porque há um sistema de crenças que sustenta aquele comportamento. Aí a conversa fica um pouco mais séria, bem diferente do riso inicial ao olharmos aquele macaco segurando aquele elefante.

Na nossa sociedade, ser otimista é, acima de tudo, ser visto como um lunático e irresponsável. Confundimos e deturpamos muitas coisas e conceitos. “Nossa, como você é otimista! ” Alguém diz, ironicamente.

Muitas vezes ser um otimista é sinônimo de alienação, como se o otimismo tivesse saído de moda. Assumir a postura otimista significa, com frequência, ser perseguido e chamado de irresponsável. Quando o otimista diz: “a coisa vai melhorar” isto não quer dizer que ele vai ficar parado esperando as coisas caírem do céu. Significa, apenas, que ele acredita e confia nisto. E suas ações e comportamentos do dia a dia vão ao encontro desta crença. O otimista, de certa forma, é perseguido por aqueles que não se permitem olhar além do escrito, por aqueles que não aprenderam, desde crianças, a lerem as entrelinhas, que, a propósito, dizem muito mais que muitas linhas retas e completas.

O otimista é aquele que sabe aonde quer chegar, mas não consegue racionalizar, expressar verbalmente seu plano, suas intenções. Por isto ele se joga, simplesmente ele acredita. Mas o plano pode não dar certo, e ele acaba estatelado lá embaixo.

Só que ser um pessimista assumido também será perseguido, e aí ele ouvirá: “Puxa, será que não tem nada de bom? Tudo é cinza e improvável. Como você é negativo! ”

Qual a saída então? Acho que termos um pouco do macaco, do elefante e do bicho que ficou faltando na foto: a do pessimista. Somos as três coisas. Não há como fugir disto. O problema está em equilibrar estas forças a nosso favor.

Ser otimista, apenas, pode nos trazer problemas. Que ironia, não? Pois é, mas é assim mesmo. O otimista incorrigível não enxerga muito os riscos, vive sempre achando que tudo vai dar certo, acha que todo mundo é legal, bacana, não vê maldade nas coisas e nem nas pessoas. Enfim, ele vive num mundo idealizado, vive um ideal.

Mas é preciso diferenciar o ideal do real.

O mundo ideal deve ser maravilhoso, mas a má notícia é que não vivemos nele; e a boa notícia, é que podemos construí-lo.

O otimista, como está envolto em seu mundo ideal, reage e vive desta forma. Tende a ver tudo e a todos da maneira como ele é.  Mas não é bem assim que a coisa funciona...

A imagem chama a nossa atenção porque há um erro nela. E o erro chama a atenção. Pronto. Ponto para o pessimista: não é ele quem diz: “Eu não disse?” “Eu falei que isto não poderia dar certo.” Os pessimistas são ótimos sinalizadores de caminhos tortos que tomamos na vida. Que bom que eles existem. Mas a pergunta que faço é: por que o erro chama a atenção? Acho que para nos lembrarmos que estamos em construção, não estamos prontos. O caminho é longo.

Rimos da imagem porque colocamos a nossa atenção no absurdo, no erro, no ridículo. Este é um pouco o papel do pessimista. Mas por que o absurdo? E se este elefante fosse de plástico? O macaco conseguiria sustentá-lo, não? Rimos do inusitado.

O otimista rirá do inusitado porque achará engraçado; o pessimista porque será irônico e dirá: “que absurdo! ” O otimista dirá: “nossa, que legal! ”

É confuso mesmo. Confuso porque somos tudo isto e mais um pouco e sabemos muito pouco lidar com estas inconsistências e incongruências de nossa natureza. Não fomos educados para entender nossos sentidos internos; fomos educados para olharmos para fora e não para dentro de nós.

São tantos os nossos cuidados em querermos que tudo faça sentido, que tudo tenha ordem, tomamos tanto cuidado em tomar tanto cuidado que acabamos por perder e inibir muitas de nossas habilidades. Uma delas, por exemplo, a fantástica habilidade de observar, que raramente fazemos. Alguém observa hoje? Precisamos reeducar os nossos sentidos.

Aprenda a observar. Quando você observa você não cristaliza, o que é excelente para não criar preconceitos e estereótipos. É preciso pensar além do que está sendo mostrado.

Por que não pode chegar um outro trapézio com uma ajuda para aquele macaco? Preciso contar com o inesperado e com a surpresa. E se este elefante for de plástico ou de pluma?

Por que não pensamos em plumas e plásticos? Porque impomos limites a nossa imaginação e a nossa subjetividade. E é preciso negá-los se quisermos equilibrar estas nossas forças.

O normal ainda é o certo, na visão de muitos. O otimista e o pessimista ainda sofrerão muitas perseguições. O normal é o meio. Mas onde está este meio, se não sei o começo e o final? Já disse isto em algum outro texto, mas achei que coubesse aqui, novamente.

E se o macaco estivesse no lugar do elefante e vice-versa? Aí seria a normalidade, a regra, a nota musical no tom correto, o instrumento afinado, o andar nos trilhos. Mas aí não precisaria deste texto e muito menos das provocações que a vida nos impõe.

O texto começa exatamente porque há este absurdo. Há um escritor que diz:

“Pode-se dizer que aprendizagens podem ocorrer quando um elemento novo desordena uma adaptação anterior, produzindo novo equilíbrio em um novo patamar de conhecimento. É preciso considerar que a aprendizagem se dará com a interação e com a construção de sentidos coletivos. ” E não é uma desordem um macaco segurar um elefante? Pois é, texto mais do que atual.

A imagem que trouxe contraria a regra, aquilo que está escrito.

“Por que precisamos mudar se sempre fizemos desta forma? ”, alguém disse.

O macaco contraria a regra. O que este macaco está fazendo lá? Arrogante ele, não? Quem ele pensa que é? Um otimista incorrigível, talvez. Mas que os pessimistas odiarão conhecê-lo.

E aquele elefante sem noção alguma do perigo? Que irresponsável! É certo que ele vai cair. Bem feito, eu avisei. Para a alegria dos pessimistas. Confirma-se a teoria do “eu sei”, “eu não te disse? ”

O que você vê na imagem? Depende do ângulo, do momento de vida no qual você está, do seu estado de espírito, do seu conjunto de valores, de suas perspectivas, de seus paradigmas.

Se você olhar a imagem com o olhar da razão, será pouco provável que o macaco conseguirá segurar o elefante. No máximo, o macaco vai conseguir encostar suas mãos na tromba do elefante e só. Vão os dois se estatelarem lá embaixo. Mas se olharmos com os olhos da alma talvez não. E eu diria que a alma sabe das coisas.

A alma nos inspira a pensar além, a enxergar portas aonde elas ainda nem foram construídas. A razão nos faz, ao contrário, desconsiderar algumas portas que estão lá, mas a gente faz questão de descartá-las. Sempre há uma razão para descartar portas. Mesmo as que estão lá. Pois é, a razão tem razões que até mesmo ela desconhece...parafraseando o escritor.

Ser racional é necessário, num mundo de incertezas. O raciocínio te orienta, te conduz para o lugar correto, certo, adequado.

Ser realista é bom. Ser pessimista é necessário. Em todas as reuniões de trabalho que participei sempre tinha um pessimista de plantão que fazia questão de nos trazer de volta à realidade: “mas vocês já pensaram que...” “vocês consideram este risco que...” “temos orçamento para isto? ” “isto não vai dar certo, nem precisa terminar de falar. ”

Ele sempre dizia estas coisas. A gente murchava na hora, mas ele teve, por diversas vezes, razão. Ter pessoas que nos trazem de volta à realidade é muito bom, nos faz poupar algumas respostas e satisfações que precisaremos dar, mas tirar os pés do chão é tão bom também...simplesmente acreditar.

Precisamos dos dois. Só usar a razão nos faz frios e alheios à beleza que é a vida; só usar a emoção nos faz seres alienados e marginalizados. “Este é só um sonhador”, alguém poderá dizer.

Precisamos reconstruir conceitos para transformar a nossa prática. Seja otimista ou pessimista, é preciso reconstruir conceitos e saber subir ou descer do trapézio, quando se fizer necessário. E sempre com classe: ninguém precisa saber dos bastidores de nossas inseguranças.

A minha atitude vai ser determinante para resolver o problema: subir ou descer do trapézio, segurar algo ou alguém ou simplesmente me jogar e saber que o macaco vai dar conta.

Há estudos que relacionam o otimismo com o funcionamento do sistema imunológico e a resistência ao estresse. Ótimo. Mas o pessimismo me ajuda a antever muitas coisas que nem o mais importante dos estudiosos de cenários conseguiria fazê-lo.

Há os que julgam, rotulam as pessoas. Nesta hora, me lembro de um provérbio chinês que diz: “você nunca conseguirá entender o outro se não calçar, no mínimo por sete dias, as sandálias dele. “ Sábia lição.

Você precisa ir para o universo do outro para conhecê-lo.

O pessimista só não teve a oportunidade de ser otimista. Parece estranho, mas é isto mesmo. Suas experiências passaram longe disto. Vivemos num mundo de desiguais.

Julgamos o outro de acordo com a nossa lente. É parecido comigo? Ótimo, faz parte da minha turma. Não é parecido? Julgo, simples assim.

É preciso considerar que o pessimista teve como espelho outros pessimistas que reforçaram o modelo a se seguir.

E ao contrário do pessimista, o otimista em sua redoma de vidro limpinha talvez não tenha tido a possibilidade de vivenciar pessimismos. É preciso enxergar as coisas para que a experiência seja real, não é nisto em que se acredita?

Estava num ônibus e um rapaz entrou pedindo dinheiro. Sem entrar na questão “certo e errado”, o fato foi que absolutamente ninguém olhou para ele, nem sequer ouviu o que ele dizia. Num determinado momento, acho que cansado de falar e ninguém ouvir, disse: “alguém pode, por favor, me enxergar? “ Não sei os outros, mas a pergunta dele doeu em mim.

Regras diferentes foram dadas ao otimista e ao pessimista para que vivessem aqui.

O otimista aprendeu a colorir a vida na sua aula de artes; o pessimista não teve esta aula ou talvez não a percebeu.

O pessimista precisou ir para a frente mais cedo. Viveu e presenciou coisas que o otimista não precisou. O otimista conheceu a poesia que o fez acreditar que se soltar (elefante) o fará ser mais forte. O pessimista teve que aprender a se equilibrar mais cedo.

O otimista andou mais por ruas asfaltadas; os pessimistas por mais ruas de pedras. Se eu andar somente por ruas asfaltadas, vou tropeçar no menor buraco. E se eu andar somente por ruas de pedras e deformações, esta será a minha lente para o mundo. Esta será a minha forma de me relacionar com o mundo. Preciso da pedra para fortalecer o meu espírito e preciso do asfalto para ainda acreditar nas pessoas e no mundo.

Os nossos carros são os que apresentam uma suspensão mais forte porque os buracos aqui não são poucos. Foi preciso nos adaptar. Os dois são necessários.

O otimista talvez tenha excessos que precisam ser tolhidos e organizados como o excesso de confiança, um verdadeiro perigo para os otimistas incorrigíveis.

Um pessimista talvez tenha privações que precisam ser discutidas e reavaliadas como ter direito a ser feliz, é um deles.

O otimista acha que sempre dá, sempre pode; o pessimista acha que nunca dá, que nunca pode. Excessos – privações. Está aí um desafio para nossos tempos.

O pessimista talvez tenha uma visão invertida da realidade, uma distorção ao acreditar que vai errar. O otimista talvez também tenha uma visão muito colorida da vida, portanto distorcida, mas se coloca na condição do querer fazer. A decisão se dá no detalhe. É uma construção.

Os otimistas carregam esta força impulsionadora para a frente (“vamos, vai dar certo! ”), mas ao mesmo tempo sofrem de uma espécie de “adaptação excessiva”, ou seja, está tudo bem, tudo há o lado bom, vamos procurar enxergar o lado bom disto, sempre acreditam nos outros, a maldade humana não é tão crítica assim.

Os pessimistas carregam também uma força impulsionadora, porém para trás (“será que vai dar certo? ”), mas ao mesmo tempo os pés estão mais no chão, assentados e as borboletas estão presas. Vivem nesta constante “errância” (sempre tem que ter algo errado) e vivem carregando seus medos.

Tanto o pessimista quanto o otimista sofrem. O sofrimento faz parte da nossa condição humana. Só que sofrem de lados opostos.

Tive uma gestora que dizia que a mãe dela sempre escolhia, em dias chuvosos, o guarda-chuva colorido, ao sair para enfrentar o dia. Ao ser questionada pela filha do motivo da escolha (“este guarda-chuva é muito fantasioso, mãe”), a mãe responde: “não é porque o dia está chuvoso que eu não posso colori-lo, nem que para isto eu deva começar pelo guarda-chuva! ”

Pois está feito o convite: o de sair de nosso centro e aproveitar esta oportunidade de fazer conexões inteligentes, começando por nosso guarda-chuva. Será que vamos aceitar este convite?

Enquanto finalizava este texto, um macaco, um elefante e o bicho que ficou faltando na foto acabaram de passar. Alguém observou?

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