Acho que são os dois. Ora estamos
no trapézio; ora nos soltamos dele. Mas tem um momento, muito particular, que
não fazemos nem uma coisa nem outra: aquele no qual não nos soltamos (porque
não acreditamos que alguém ou algo nos sustentará), ou não seguramos algo ou
alguém porque não nos achamos capazes. E é nesta hora que o pessimismo entra em
cena. Portanto, acho que faltou um animal na imagem que representasse isto.
Temos o macaco dizendo: “Venha,
não tenha medo. Eu seguro você. Pode confiar em mim. ” Vocês repararam na
carinha feliz dele? E temos também o elefante dizendo: “fui! ” E foi mesmo, sem
pensar duas vezes. Ambos otimistas.
Quando olho esta imagem, é
inegável a vontade de rir. Rir do absurdo que ela representa, afinal como um
macaco franzino poderia segurar um elefante? Mas logo o riso passa e vejo que a
imagem tem muito mais a nos provocar e a nos oferecer do que um simples riso. O
humor e o riso são maravilhosos porque introduzem com eficácia qualquer
aprendizado que se queira fazer, mas em primeiro momento. Porque depois, é hora
de aprofundar e refletir.
Otimismo x Pessimismo. Dois lados
que se opõem. Dois lados que se completam. Ora estamos no trapézio ora a vida
nos pede para soltá-lo.
Num mundo de dualidade e de
contradições como o nosso, ter a consciência de que ora estaremos lá ou ora
estaremos cá, é uma questão de sobrevivência. Não adianta questionar a vida,
como fazemos muitas vezes. Há vezes que receberemos respostas; há vezes em que
precisaremos subir ou descer do trapézio para encontrá-las. E aí a certeza do
macaco e a confiança do elefante nos ajudarão muito, podem apostar que sim.
Pessimismo e otimismo possuem o
mesmo sufixo “ismo”. E o que isto
significa?
Há vários significados para este
sufixo, não podemos generalizar. Etimologicamente ele vem do grego e significa
um sistema de crenças, uma ideologia, um sistema a ser seguido, algo em que se
acredita. Porém, na Medicina significa patologia, uma doença. E aí começa uma
pequena confusão: porque nem sempre o “ismo” da ideologia (por exemplo: Cristianismo)
poderá ser confundido com o “ismo” de doença, por exemplo: alcoolismo
(dependência química do álcool). São coisas distintas. Esta confusão traz
entendimento errado que por sua vez, traz comportamentos equivocados.
Vejamos o termo homossexualismo. Outra
confusão. Erroneamente era tratado como patologia, doença, o que já deixou de
ser visto assim pela Medicina na década de 80. Tanto isto é verdade que o termo
foi mudado para homossexualidade. Mudou-se, portanto, o sufixo "ismo"
para “idade”, que significa modo de ser, comportamento. Daí os termos maldade,
lealdade, igualdade e por aí vai.
Mas por que falar disto, de
sufixos? Apenas para lembrar o quanto a nossa Língua é rica e o quanto vale a
pena se aprofundar no seu conhecimento para saber o que estamos falando. E isto
nos ajudará a compreender, então, que otimismo e pessimismo são um sistema de
crenças, algo em que se acredita. E o nosso sistema de crenças explica muita
coisa.
Quando chamarmos alguém de
otimista ou de pessimista, ou quando nos classificarmos de tal forma, será
inerente considerar que a pessoa agiu desta forma não somente por ser A ou B,
otimista ou pessimista, mas sim porque há um sistema de crenças que sustenta
aquele comportamento. Aí a conversa fica um pouco mais séria, bem diferente do
riso inicial ao olharmos aquele macaco segurando aquele elefante.
Na nossa sociedade, ser otimista
é, acima de tudo, ser visto como um lunático e irresponsável. Confundimos e
deturpamos muitas coisas e conceitos. “Nossa, como você é otimista! ” Alguém
diz, ironicamente.
Muitas vezes ser um otimista é
sinônimo de alienação, como se o otimismo tivesse saído de moda. Assumir a
postura otimista significa, com frequência, ser perseguido e chamado de
irresponsável. Quando o otimista diz: “a coisa vai melhorar” isto não quer
dizer que ele vai ficar parado esperando as coisas caírem do céu. Significa,
apenas, que ele acredita e confia nisto. E suas ações e comportamentos do dia a
dia vão ao encontro desta crença. O otimista, de certa forma, é perseguido por
aqueles que não se permitem olhar além do escrito, por aqueles que não
aprenderam, desde crianças, a lerem as entrelinhas, que, a propósito, dizem
muito mais que muitas linhas retas e completas.
O otimista é aquele que sabe
aonde quer chegar, mas não consegue racionalizar, expressar verbalmente seu
plano, suas intenções. Por isto ele se joga, simplesmente ele acredita. Mas o
plano pode não dar certo, e ele acaba estatelado lá embaixo.
Só que ser um pessimista assumido
também será perseguido, e aí ele ouvirá: “Puxa, será que não tem nada de bom?
Tudo é cinza e improvável. Como você é negativo! ”
Qual a saída então? Acho que
termos um pouco do macaco, do elefante e do bicho que ficou faltando na foto: a
do pessimista. Somos as três coisas. Não há como fugir disto. O problema está
em equilibrar estas forças a nosso favor.
Ser otimista, apenas, pode nos
trazer problemas. Que ironia, não? Pois é, mas é assim mesmo. O otimista
incorrigível não enxerga muito os riscos, vive sempre achando que tudo vai dar
certo, acha que todo mundo é legal, bacana, não vê maldade nas coisas e nem nas
pessoas. Enfim, ele vive num mundo idealizado, vive um ideal.
Mas é preciso diferenciar o ideal
do real.
O mundo ideal deve ser
maravilhoso, mas a má notícia é que não vivemos nele; e a boa notícia, é que podemos
construí-lo.
O otimista, como está envolto em
seu mundo ideal, reage e vive desta forma. Tende a ver tudo e a todos da
maneira como ele é. Mas não é bem assim
que a coisa funciona...
A imagem chama a nossa atenção
porque há um erro nela. E o erro chama a atenção. Pronto. Ponto para o
pessimista: não é ele quem diz: “Eu não disse?” “Eu falei que isto não poderia
dar certo.” Os pessimistas são ótimos sinalizadores de caminhos tortos que
tomamos na vida. Que bom que eles existem. Mas a pergunta que faço é: por que o
erro chama a atenção? Acho que para nos lembrarmos que estamos em construção,
não estamos prontos. O caminho é longo.
Rimos da imagem porque colocamos
a nossa atenção no absurdo, no erro, no ridículo. Este é um pouco o papel do
pessimista. Mas por que o absurdo? E se este elefante fosse de plástico? O
macaco conseguiria sustentá-lo, não? Rimos do inusitado.
O otimista rirá do inusitado
porque achará engraçado; o pessimista porque será irônico e dirá: “que absurdo!
” O otimista dirá: “nossa, que legal! ”
É confuso mesmo. Confuso porque
somos tudo isto e mais um pouco e sabemos muito pouco lidar com estas
inconsistências e incongruências de nossa natureza. Não fomos educados para
entender nossos sentidos internos; fomos educados para olharmos para fora e não
para dentro de nós.
São tantos os nossos cuidados em
querermos que tudo faça sentido, que tudo tenha ordem, tomamos tanto cuidado em
tomar tanto cuidado que acabamos por perder e inibir muitas de nossas
habilidades. Uma delas, por exemplo, a fantástica habilidade de observar, que
raramente fazemos. Alguém observa hoje? Precisamos reeducar os nossos sentidos.
Aprenda a observar. Quando você
observa você não cristaliza, o que é excelente para não criar preconceitos e estereótipos.
É preciso pensar além do que está sendo mostrado.
Por que não pode chegar um outro
trapézio com uma ajuda para aquele macaco? Preciso contar com o inesperado e
com a surpresa. E se este elefante for de plástico ou de pluma?
Por que não pensamos em plumas e
plásticos? Porque impomos limites a nossa imaginação e a nossa subjetividade. E
é preciso negá-los se quisermos equilibrar estas nossas forças.
O normal ainda é o certo, na visão
de muitos. O otimista e o pessimista ainda sofrerão muitas perseguições. O
normal é o meio. Mas onde está este meio, se não sei o começo e o final? Já
disse isto em algum outro texto, mas achei que coubesse aqui, novamente.
E se o macaco estivesse no lugar
do elefante e vice-versa? Aí seria a normalidade, a regra, a nota musical no
tom correto, o instrumento afinado, o andar nos trilhos. Mas aí não precisaria
deste texto e muito menos das provocações que a vida nos impõe.
O texto começa exatamente porque
há este absurdo. Há um escritor que diz:
“Pode-se dizer que aprendizagens
podem ocorrer quando um elemento novo desordena uma adaptação anterior,
produzindo novo equilíbrio em um novo patamar de conhecimento. É preciso
considerar que a aprendizagem se dará com a interação e com a construção de
sentidos coletivos. ” E não é uma desordem um macaco segurar um elefante? Pois
é, texto mais do que atual.
A imagem que trouxe contraria a regra,
aquilo que está escrito.
“Por que precisamos mudar se
sempre fizemos desta forma? ”, alguém disse.
O macaco contraria a regra. O que
este macaco está fazendo lá? Arrogante ele, não? Quem ele pensa que é? Um
otimista incorrigível, talvez. Mas que os pessimistas odiarão conhecê-lo.
E aquele elefante sem noção
alguma do perigo? Que irresponsável! É certo que ele vai cair. Bem feito, eu
avisei. Para a alegria dos pessimistas. Confirma-se a teoria do “eu sei”, “eu
não te disse? ”
O que você vê na imagem? Depende
do ângulo, do momento de vida no qual você está, do seu estado de espírito, do
seu conjunto de valores, de suas perspectivas, de seus paradigmas.
Se você olhar a imagem com o
olhar da razão, será pouco provável que o macaco conseguirá segurar o elefante.
No máximo, o macaco vai conseguir encostar suas mãos na tromba do elefante e
só. Vão os dois se estatelarem lá embaixo. Mas se olharmos com os olhos da alma
talvez não. E eu diria que a alma sabe das coisas.
A alma nos inspira a pensar além,
a enxergar portas aonde elas ainda nem foram construídas. A razão nos faz, ao
contrário, desconsiderar algumas portas que estão lá, mas a gente faz questão
de descartá-las. Sempre há uma razão para descartar portas. Mesmo as que estão
lá. Pois é, a razão tem razões que até mesmo ela desconhece...parafraseando o escritor.
Ser racional é necessário, num
mundo de incertezas. O raciocínio te orienta, te conduz para o lugar correto,
certo, adequado.
Ser realista é bom. Ser
pessimista é necessário. Em todas as reuniões de trabalho que participei sempre
tinha um pessimista de plantão que fazia questão de nos trazer de volta à
realidade: “mas vocês já pensaram que...” “vocês consideram este risco que...” “temos
orçamento para isto? ” “isto não vai dar certo, nem precisa terminar de falar. ”
Ele sempre dizia estas coisas. A
gente murchava na hora, mas ele teve, por diversas vezes, razão. Ter pessoas
que nos trazem de volta à realidade é muito bom, nos faz poupar algumas
respostas e satisfações que precisaremos dar, mas tirar os pés do chão é tão
bom também...simplesmente acreditar.
Precisamos dos dois. Só usar a
razão nos faz frios e alheios à beleza que é a vida; só usar a emoção nos faz
seres alienados e marginalizados. “Este é só um sonhador”, alguém poderá dizer.
Precisamos reconstruir conceitos
para transformar a nossa prática. Seja otimista ou pessimista, é preciso
reconstruir conceitos e saber subir ou descer do trapézio, quando se fizer
necessário. E sempre com classe: ninguém precisa saber dos bastidores de nossas
inseguranças.
A minha atitude vai ser
determinante para resolver o problema: subir ou descer do trapézio, segurar
algo ou alguém ou simplesmente me jogar e saber que o macaco vai dar conta.
Há estudos que relacionam o otimismo com o funcionamento do sistema imunológico e a resistência ao estresse. Ótimo.
Mas o pessimismo me ajuda a antever muitas coisas que nem o mais importante dos
estudiosos de cenários conseguiria fazê-lo.
Há os que julgam, rotulam as
pessoas. Nesta hora, me lembro de um provérbio chinês que diz: “você nunca conseguirá entender o
outro se não calçar, no mínimo por sete dias, as sandálias dele. “ Sábia lição.
Você precisa ir para o universo do outro para conhecê-lo.
O pessimista só não teve a oportunidade de ser otimista. Parece
estranho, mas é isto mesmo. Suas experiências passaram longe disto. Vivemos num
mundo de desiguais.
Julgamos o outro de acordo com a nossa lente. É parecido
comigo? Ótimo, faz parte da minha turma. Não é parecido? Julgo, simples assim.
É preciso considerar que o pessimista teve como espelho
outros pessimistas que reforçaram o modelo a se seguir.
E ao contrário do pessimista, o otimista em sua redoma de
vidro limpinha talvez não tenha tido a possibilidade de vivenciar pessimismos.
É preciso enxergar as coisas para que a experiência seja real, não é nisto em
que se acredita?
Estava num ônibus e um rapaz entrou pedindo dinheiro. Sem entrar na
questão “certo e errado”, o fato foi que absolutamente ninguém olhou para ele,
nem sequer ouviu o que ele dizia. Num determinado momento, acho que cansado de
falar e ninguém ouvir, disse: “alguém pode, por favor, me enxergar? “ Não sei
os outros, mas a pergunta dele doeu em mim.
Regras diferentes foram dadas ao otimista e ao pessimista
para que vivessem aqui.
O otimista aprendeu a colorir a vida na sua aula de
artes; o pessimista não teve esta aula ou talvez não a percebeu.
O pessimista precisou ir para a frente mais cedo. Viveu e
presenciou coisas que o otimista não precisou. O otimista conheceu a poesia que
o fez acreditar que se soltar (elefante) o fará ser mais forte. O pessimista
teve que aprender a se equilibrar mais cedo.
O otimista andou mais por ruas asfaltadas; os pessimistas
por mais ruas de pedras. Se eu andar somente por ruas asfaltadas, vou tropeçar
no menor buraco. E se eu andar somente por ruas de pedras e deformações, esta
será a minha lente para o mundo. Esta será a minha forma de me relacionar com o
mundo. Preciso da pedra para fortalecer o meu espírito e preciso do asfalto
para ainda acreditar nas pessoas e no mundo.
Os nossos carros são os que apresentam uma suspensão mais
forte porque os buracos aqui não são poucos. Foi preciso nos adaptar. Os dois
são necessários.
O otimista talvez tenha excessos que precisam ser
tolhidos e organizados como o excesso de confiança, um verdadeiro perigo para
os otimistas incorrigíveis.
Um pessimista talvez tenha privações que precisam ser
discutidas e reavaliadas como ter direito a ser feliz, é um deles.
O otimista acha que sempre dá, sempre pode; o pessimista
acha que nunca dá, que nunca pode. Excessos – privações. Está aí um desafio
para nossos tempos.
O pessimista talvez tenha uma visão invertida da
realidade, uma distorção ao acreditar que vai errar. O otimista talvez também
tenha uma visão muito colorida da vida, portanto distorcida, mas se coloca na
condição do querer fazer. A decisão se dá no detalhe. É uma construção.
Os otimistas carregam esta força impulsionadora para a
frente (“vamos, vai dar certo! ”), mas ao mesmo tempo sofrem de uma espécie de
“adaptação excessiva”, ou seja, está tudo bem, tudo há o lado bom, vamos
procurar enxergar o lado bom disto, sempre acreditam nos outros, a maldade
humana não é tão crítica assim.
Os pessimistas carregam também uma força impulsionadora,
porém para trás (“será que vai dar certo? ”), mas ao mesmo tempo os pés estão
mais no chão, assentados e as borboletas estão presas. Vivem nesta constante
“errância” (sempre tem que ter algo errado) e vivem carregando seus medos.
Tanto o pessimista quanto o otimista sofrem. O sofrimento
faz parte da nossa condição humana. Só que sofrem de lados opostos.
Tive uma gestora que dizia que a mãe dela sempre escolhia,
em dias chuvosos, o guarda-chuva colorido, ao sair para enfrentar o dia. Ao ser
questionada pela filha do motivo da escolha (“este guarda-chuva é muito
fantasioso, mãe”), a mãe responde: “não é porque o dia está chuvoso que eu não
posso colori-lo, nem que para isto eu deva começar pelo guarda-chuva! ”
Pois está feito o convite: o de sair de nosso centro e
aproveitar esta oportunidade de fazer conexões inteligentes, começando por
nosso guarda-chuva. Será que vamos aceitar este convite?
Enquanto finalizava este texto, um macaco, um elefante e
o bicho que ficou faltando na foto acabaram de passar. Alguém observou?
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