Duas senhoras caminhavam pela rua quando uma
delas viu um homem pedindo uma ajuda. Como fazia frio, uma delas resolveu doar
o casaco que vestia, imaginando ser esta a melhor forma de ajudá-lo, em função
da baixa temperatura.
Observando isto, a outra senhora disse:
- Espere. Vai doar este casaco caro e que você
acabou de comprar? Vamos para casa e lá pegaremos outra blusa ou casaco velho,
ou até mesmo um cobertor usado, e traremos para ele, aqui.
A outra senhora concordou. E as duas partiram
rapidamente para casa. Ao voltarem com o casaco, o homem não se encontrava mais
lá. As duas, devidamente vestidas com seus casacos, agora com um a mais,
ficaram paradas na calçada, como se isto fosse o suficiente para que aquele
homem voltasse. Mas ele não voltou.
Podemos fazer várias leituras sobre esta
pequena história. Mas o traço de conversa que quero puxar aqui é sobre as
oportunidades de fazermos algo relevante nesta vida, mas que deixamos passar em
nome de coisas irrelevantes. Deixamos para amanhã coisas que talvez não sejam
mais necessárias, solicitadas, permitidas.
Deixamos para amanhã coisas que fazem sentido serem feitas hoje. É
preciso pensar sobre.
Isto não quer dizer que devemos abrir mão da
ordem, do planejamento. Isso sempre será necessário e útil para a eficiência de
qualquer atitude, compromisso, mudança. O planejamento é fundamental, mas
exercer a arte do fazer é crucial para a nossa vida. “Sair fazendo”,
definitivamente, não é a melhor opção. Mas esperar demais ou querer que a
situação esteja “perfeita” para começar a agir, também não será uma boa opção.
E talvez este tenha sido o erro das duas
senhoras. Ficaram tempo demais no planejamento. E quando voltaram, era tarde
demais. Sempre há algo para se fazer no momento, na oportunidade. E depois, com
mais tempo e calma, efetuar o planejamento. Mas jamais perder a oportunidade.
Na cabeça delas, tudo estava planejado: “...vamos para casa, pegamos outras
peças de roupas, mais velhas, e voltamos e doamos a ele...”. Simples, não? Pois
é, só que elas se esqueceram do principal: de considerarem aquele homem nas
etapas planejadas. E quando voltaram, o homem não se encontrava lá. De que
adiantou o planejamento? Nada. Planejamento sem ação é um vazio de
significados.
Agora é a hora de fazer. Agora é a hora de
pensar. Agora é a hora de agir. Agora é a hora de estudar. Agora é a hora do
agora. Agora é a hora. A hora é agora. E o significado de agora é “nesta hora”.
Portanto, lembre-se: o arco-íris não vai te esperar.
imagem tirada da internet
Aquelas duas senhoras, apesar de terem em
mente ajudarem aquele homem, excederam no tempo, passaram do ponto, e perderam
a chance de ajudar. Elas queriam fazer uma doação, ajudá-lo, mas desde que a
doação fizesse parte dos excessos delas, do supérfluo, e não de algo realmente
que importasse a elas.
Aquela blusa a mais nas mãos de uma delas
denuncia os excessos, seja de planejamento, seja de atitude. É preciso abrir
mão dos excessos, do supérfluo, daquilo que nos aliena do mundo.
Os excessos e o supérfluo nos encastelam. São
redomas de vidro criadas por nós próprios. Assim como as privações também têm a
mesma força. Eles não podem ser os nossos orientadores, os nossos
direcionadores. Caso sejam, ainda ficaremos com muitas blusas nas mãos e deixaremos
de ver muitos arcos-íris.
Aproveitar as oportunidades e saber a hora de
realizar é saber enxergar o arco-íris. Nem sempre ele virá após uma chuva, mas
se estivermos preparados quando ele passar, certamente o enxergaremos. No
entanto, se estivermos muito mais preocupados com questões irrelevantes, como qual
blusa vamos doar, certamente quando ele passar não estaremos na janela para
vê-lo. E quando haverá outra oportunidade? Ninguém sabe. Assim como aquele
homem que jamais voltou, na história das duas senhoras. A oportunidade é agora. E só quem estiver
pronto saberá.
Obviamente há que se preocupar com a chuva e
saber aonde se abrigar. Ou seja: planejar. Mas o mais importante é saber o que
fazer depois de a chuva passar. E tendo isto em mente, aguçaremos os nossos
olhares para as oportunidades da vida.
Então, enquanto chover e estivermos aguardando
a chegada do arco-íris, é bom sabermos...
- planejar, planejar e planejar. Seremos gratos
a nós por isto. Mas não podemos nos esquecer de viver, também. Viver é tão
importante quanto planejar;
- buscar o aperfeiçoamento de nossas
atividades, e nunca a perfeição, uma vez que ela não existe. Buscar a perfeição
é nos perder na nossa vaidade e na nossa arrogância. As imperfeições são
bem-vindas;
- pedir desculpas hoje. Não sabemos se teremos
outra oportunidade;
- ser feliz hoje. Não sabemos se teremos outra
chance;
- valorizar a simplicidade, a honestidade, a
lucidez, a humildade, a ética. Somente eles poderão nos mostrar o arco-íris.
Sem eles, nem adianta aumentarmos a graduação de nossas lentes;
- abrir mão de ofender e de nos sentir
ofendidos: quem ofende é pobre de espírito, e quem se sente o tempo todo
ofendido é um vaidoso de plantão;
- construir a nossa base de valores naquilo
que é sólido, e não naquilo que é efêmero. Os likes que o digam...;
- ousar desconstruir modelos que não servem
mais. Trilhar caminhos não trilhados;
- construir nossa morada para o inverno. Mas
não nos esquecer de termos tempo de apreciarmos o sol que bate em nossa janela;
- lembrar de que a racionalidade não pode
tomar o lugar da sensibilidade. Quando isto acontece, há o embrutecimento da
alma e a nossa sensibilidade se revolta;
- dar continuidade às coisas, mas não nos
esquecer das possibilidades;
- lembrar de plantar, mas não nos esquecer de
regar. O regar traz esperança;
- abrir mão de coisas que dificultarão
enxergarmos o arco-íris;
- colocar mais cores no nosso arco-íris. Quem
falou que ele só tem sete cores? Termos sempre, por perto, um baldinho para
pintá-lo quantas vezes for necessário. E se manchar alguma cor, usarmos o
baldinho de novo;
- acreditar no arco-íris. Insistirmos;
E o principal:
- nunca perdermos a oportunidade de olharmos
para cima e enxergarmos o arco-íris que chegou. Precisamos nos lembrar de que
ele nunca tocará a campainha para nos avisar. Se quisermos vê-lo, deveremos percebê-lo.
E isto é para poucos. Muito poucos. Somente para aqueles que, raramente, têm
blusas desnecessárias em mãos.
Para finalizar, deixo uma bela frase de Mário
Quintana. Um escritor que certamente foi um apreciador de arco-íris:
“Não faças da tua vida um rascunho. Poderás
não ter tempo de passá-la a limpo. ”
Portanto, que cada um de nós possa ter
racionalidade de ver a chuva, porém sem descuidar da sensibilidade de enxergar
e de perceber o arco-íris.
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