terça-feira, 10 de novembro de 2015

Obrigada, amigo!

A semana que passou foi muito triste para mim. Particularmente muito triste. Perdi um amigo.

Um amigo todo branquinho, peludo, da raça poodle, que não pesava mais que três quilos e meio. Chamava-se Barthy. Ou melhor, chama-se Barthy. Aprendi que utilizar o tempo verbal no presente eterniza sobre o que se fala e/ou sobre quem se fala. E o Barthy estará sempre nas nossas memórias, sempre presente em nossas vidas.

Um amigo cão.

Barthy foi um cão feliz. Literalmente posso dizer que ele teve uma vida de cachorro. No melhor sentido que esta construção possa ter. Sempre teve amor da família, atenção, alimentação, caminha confortável e, principalmente, respeito. Ele nos amava e nós o amávamos. Sei disto.

Ele se foi de velhice. Viveu quase 16 anos. Faria aniversário em 14 de dezembro. Nunca teve problemas de saúde, nunca precisou tomar remédios na vida. Um cachorro saudável que viveu a totalidade de tempo que sua raça e espécie permitiram. E sem dores e sem sofrimentos. Apenas nestes últimos quinze dias ele começou a apresentar problemas na lombar, sua circulação foi dando sinais de cansaço, e ele se foi da forma mais linda que pode haver: nos braços de quem o amava muito, também: minha irmã, a mãe dele.

Até nesse momento triste de despedida, ele não deu trabalho. Foi embora de forma rápida e indolor. Mas sei e acredito que a despedida foi temporária: Barthy vive. Não aqui, mais. Mas num outro lugar, num outro plano aonde ele possa descansar e continuar brincando. Acredito nisto. E que bom que acredito nisto. As nossas crenças nos determinam.

Fica a saudade. E quanta saudade! Cheguei a ouvir o latido dele durante a semana, acho que de tanta saudade que sinto. A última vez que nos vimos, há poucas semanas, fiquei um tempão com ele no colo. Como era o costume! Ele adorava um colo. Num momento, ele apoiou sua cabeça no meu pescoço e pude sentir o seu focinho, sua respiração. Só para quem ama animais pode imaginar o sabor delicioso desta sensação. E depois, o levei para tomar água e comer um pedacinho de tomate, que ele fez com gosto. E ainda lambeu meus dedos e minhas mãos.

Que gostosa esta convivência! Obrigada, amigo. E que conforto que dá saber que você foi um cão feliz! E que viveu a plenitude da sua vida. Obrigada, amigo! Obrigada por ter trazido somente alegrias para as nossas vidas.

Como um bom sagitariano, uma de suas principais características era a sinceridade. Quando ele não gostava de alguma coisa ou de alguém, era visível. Latia, rosnava, resmungava. Ficava bastante inquieto quando algo o incomodava. E quer saber? Na maior parte das vezes ele estava certo: ele sempre latia para pessoas esquisitas, que não gostavam de animais e que tinham uma energia pesada.

Respeito quem não gosta de animais. Cada um com suas escolhas. Mas não sei se são pessoas boas e confiáveis. Desculpe se ofendo alguém. Mas somos livres para expressarmos as nossas opiniões. Penso que quem não gosta de animais é só porque ainda não teve a oportunidade de conviver com eles. Depois da convivência, duvido resistir a um chamado deles.

Como diz a música “Samba da minha Terra”, de Dorival Caymmi: “Quem não gosta do samba bom sujeito não é...ou é ruim da cabeça ou doente do pé...”, parafraseando esta bela música...”...quem não gosta de animais bom sujeito não é...ou é ruim da cabeça ou doente do pé...”. Além disto, a convivência com animais nos faz pessoas melhores. Acredito nisto também.

Quando minha irmã viajava, o deixava conosco, em casa. Minha mãe cuidava dele. E que delícia era chegar à noite, em casa, e saber que ele estava lá. Quando eu saía do elevador e tocava a campainha, lá vinha ele com o seu focinho redondinho embaixo da porta, cheirando, só esperando que eu entrasse. E quando isto acontecia, ele ficava pulando em mim pedindo para pegá-lo no colo. E que dificuldade era pegá-lo no colo! Era o que mais eu adorava fazer: ficar com ele no colo.

Numa das vezes em que ele estava conosco, cheguei do trabalho muito triste. Tinha tido um dia muito difícil. Cheguei muito cansada, brinquei pouco com ele e fui tomar um banho. Depois jantei e me sentei no sofá para tentar descansar um pouco. Realmente naquele dia eu não conseguia me doar mais, estava muito cansada. Liguei a televisão, me sentei no sofá e só senti um focinho molhado encostando na minha mão. Era o Barthy. Olhei para ele. Ele levantou a cabeça e olhou para mim, também. Como que entendendo o que acontecia, e sem nada me cobrar, abaixou a cabeça dele e só ficou ali ao meu lado, sem me pedir e sem me cobrar absolutamente nada. Nunca vou me esquecer desta demonstração de carinho, de amor e de solidariedade, algo raro em nós, humanos. São poucos os que fazem, de verdade, isto. Nada me pediu em troca. Muito pelo contrário: foi ele quem me fortaleceu. E ficamos os dois ali, assistindo televisão, quietos, juntos. Não era necessário dizer algo. O silêncio, muitas vezes, fala por si. Mas é preciso saber ouvi-lo.

Aprendemos muito com eles, não só com os cães, mas com todos os animais. São sábios, simples e sabem olhar para a vida além do que ela mostra. Sabem olhá-la com os olhos do coração e para o que realmente importa. Respeitam a vida e só atacam a nós quando nós o atacamos em primeiro lugar. Só que é preciso lembrar que se eles nos atacam será por pura defesa e instinto. Não são vaidosos, não querem o poder, não puxam o tapete de ninguém. São amigos sinceros e solidários. Respeitam a natureza. Respeitam a si.

Quanto podemos aprender com eles, animais!

Nestes últimos dias em que o Barthy esteve debilitado, minha irmã precisou se ausentar do trabalho. Não havia como deixá-lo sozinho. Ela é Professora. Conversando com a Coordenadora de Ensino sobre a situação e pedindo um pouco de compreensão, recebeu a seguinte resposta:

“Você vai precisar escolher. Ou você fica com o seu cão ou você escolhe o seu profissionalismo. Deixar de trabalhar por causa de um cachorro? ”

Pessoas infelizes não são dignas de críticas, mas sim de piedade. Acho que este raciocínio se encaixa bem a esta pessoa. Há pessoas no mundo que congelam em função da frieza delas. Mas não percebem em função de suas duras cascas. Só mesmo os tropeços da vida serão capazes de mudar a rota destas pessoas.

É inquestionável a necessidade do trabalho. Mas aqui se fala de algo além, extremamente superior, e sem comparação: solidariedade, compreensão, estender as mãos, caridade. Mas como pedir isto a este tipo de pessoa?

Nem preciso dizer a escolha de minha irmã: o Barthy. E ela arcou com todas as consequências de sua escolha, de sua feliz e acertada escolha. Num mundo em que se abandonam pessoas, como reparar em quem tem este tipo de atitude perante a um cachorro, a um animal? Tento encontrar outra palavra, mas acho que piedade é a que melhor se encaixa, mesmo. São pessoas dignas de piedade. E, independentemente, de nossas crenças religiosas e se é que temos alguma, achar que não há reação para as nossas ações, é pura ilusão. É viver no mundo encantado. Tudo o que fazemos e tudo o que não fazemos sofrerá reações, efeitos. Seja para o bem ou para o mal. Portanto, é preciso que saibamos que todos nós prestaremos contas de todas as portas que fechamos às pessoas que nela bateram. E o inverso também é verdadeiro: que não serão em vão as portas que abrimos a quem tocou a nossa campainha. Isto é um fato, independentemente de quem acreditar ou não. Quem não acreditar nisto, só estará exercitando o seu poder de alienação, coisa muito comum e nossa parceira diária.

As nossas escolhas são as direcionadoras de nossas vidas. É preciso saber escolher. Escolhas bem-feitas, vida feliz; escolhas malfeitas, vida infeliz. Quem é feliz, olhe para as suas escolhas: você encontrará uma resposta do motivo de sua felicidade. Quem é infeliz, olhe para as suas escolhas: você encontrará uma resposta do motivo de sua infelicidade. Isto é a nossa vida. Somos estas duas coisas. Mas nem todos dedicam tempo para acertarem as rotas. E quando se derem conta, será preciso refazer o caminho. E refazer o caminho não me parece uma coisa agradável. Cada um de nós deve ter uma história para contar sobre isto.

Enfim, quero encerrar este texto que escrevi para homenagear o meu amigo Barthy com um “Muito Obrigado, amigo! ”, e também deixar duas reflexões para todos nós:

“A grandeza de uma nação pode ser medida pela maneira como seus animais são tratados. ” - Mahatma Gandhi

“Compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem. ” - Arthur Schopenhauer

O que falar sobre Gandhi? A obra dele fala por si. Mas há uma coisa que não posso deixar de falar: que Gandhi lutou pela transformação do mundo, para que fosse um lugar melhor de ser vivido. Ele foi o maior defensor do princípio da não agressão e da não violência. Só isto ele buscou.

E sobre Arthur Schopenhauer, o que dizer? Também a obra dele fala por si. Como um dos grandes Filósofos da História, tinha como uma de suas metas de vida, o Amor.

Acho que vou apresentar Gandhi e Schopenhauer àquela pessoa que se diz Coordenadora de Ensino. E que tristeza uma pessoa com estes pensamentos atuar na área da Educação. Em qualquer área isto seria crítico. Mas na área da Educação, é preciso concordar que é, no mínimo, irônico.

Mas é preciso descongelar a alma e o coração para entender as palavras de Gandhi e de Schopenhauer.

O convite para este descongelar nos chega diariamente. Mas às vezes, muitos de nós estamos ocupados com coisas desnecessárias para ouvirmos a este chamado. E acho que este é o caso daquela pessoa. Mas a vida ensina. À maneira dela, mas ela ensina. Lembrando que a vida não costuma ser muito gentil em seus ensinamentos para quem escolhe caminhos tortos. Mas isto é assunto para outro texto!

Mais uma vez: Obrigada, amigo!

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