terça-feira, 2 de agosto de 2016

Foco significa tempo

Foi-se o tempo que tínhamos tempo. Se é que ele existiu um dia. Talvez na infância, o que também faz tempo.

Lá, o tempo nos sobrava; hoje ele nos falta. Na infância, usávamos o tempo com sabedoria e fazíamos o que precisava; hoje, este mesmo tempo talvez esteja sendo utilizado sem sabedoria, e muitas vezes desperdiçado. Por isto ele nos falta. E muito.

Foi-se o tempo que parávamos para conversar. A velha pergunta: “Olá, tudo bem? ” refletia sinceridade e interesse em saber do outro. Hoje perguntamos apenas por educação: “Olá, tudo bem? Desculpa, estou correndo...depois a gente se fala...me liga...me passa um zap..., #partiu...”

O que nos faz achar que hoje não temos tempo? O que nos faz achar que antigamente tínhamos mais tempo? O que nos faz achar que hoje as coisas andam corridas mais que ontem? O que nos faz acreditar nestas conclusões a que chegamos?

Arrogâncias de nossos tempos. Quanto mais ocupado estivermos, menos tempo teremos para nos conhecer, para nos revisitar, para nos reconectar. Quanto mais para o externo estivermos, menos foco teremos. E quanto menos foco, mais à deriva pela vida...

Ter foco é questionar as máscaras que vestimos.

Será que antigamente fazíamos menos coisas ou fazíamos, apenas, o que era necessário e importante?

Revisitar os nossos comportamentos e escolhas nos ajudará a descobrir os motivos para a nossa falta de tempo. Inúmeras podem ser as explicações para esta nossa envaidecida falta de tempo. Mas para este texto, escolhi apenas um motivo para explorar: o foco.

Foco como sinônimo do que importa. Da essência. Do verdadeiro. Do que é preciso.

vídeo tirado da internet

Pessoas com foco têm tempo. São pessoas que fazem o que precisa e fazem o que é certo. Fazem muitas coisas. Iniciam e terminam. São excelentes começadores e finalizadores. Não deixam as coisas pela metade. Não desviam a sua atenção. São pessoas que acreditam no que fazem e seguem o caminho que escolheram. E quando olham para trás, é apenas para ver se nada ficou esquecido. Mas logo retomam o caminho. São pessoas firmes, que não perdem tempo com bobagens. E por quê? Porque têm foco.

Uma escolha de vida. Uma escolha difícil. Uma forma de caminhar.

Ter foco é saber dizer não. É valorizar a sua opinião, sem desprezar a do outro.

Ter foco é participar do que importa e não do que te autopromoverá.

Parece óbvio dizer que ter foco significa saber o que se quer. Mas isto não basta: é preciso, também, buscar o que se quer. Merecer o que se quer. Conquistar o que se quer. Criar oportunidades para se ter o que se quer. Criar atalhos sustentáveis para trilhar o caminho até chegar aonde se quer.

Por tudo isto, ter foco não é das tarefas mais fáceis. Não é uma escolha fácil. Ainda mais que durante o trajeto, muitas serão as interrupções e os problemas que somente aquele que aceitar a caminhada saberá dizer.

Deixar a vaidade e o orgulho de lado, durante o trajeto, será determinante para aquele que quiser ter foco. Foco, muitas vezes, significa rever conceitos, duvidar e questionar.

Ressignificar. Foco significa fazer as escolhas certas.

Somos apressados. Somos ansiosos. Estamos num tempo que ainda não chegou e não sabemos se chegará. Queremos estar no amanhã sem ainda termos vivido o hoje.

Queremos ver o final da história, o final do filme, interrompemos a fala do outro, completamos frases, tudo isto em nome de uma pressa construída por terceiros que, por meio de nossos comportamentos, ajudamos a manter. Tudo isto nos faz perder o foco.

Perdemos o foco porque fugimos do essencial. Ter foco significa saber o que importa.

Estamos sempre com as agendas cheias e cheios de compromissos, muitas vezes, adiáveis. Se abrirmos mão de estarmos e de sermos disponíveis o tempo todo, teremos foco e, consequentemente, tempo.

A nossa falta de foco nos transforma em expectadores diante à vida. Mas é preciso mais. A vida pede mais da gente. Podemos fazer mais.

Pessoas nos fazem perder tempo por falta de foco.

Pessoas perdem seu tempo por nossa falta de foco. É preciso pensar sobre isto.

Ter foco é delegar quando se pode. É pedir ajuda sem sentir vergonha.

Ter foco é pedir desculpas sem constrangimentos tolos. É abrir mão de respostas prontas.

É acreditar no simples. É ter atitudes simples. É valorizar o pequeno.

Acima de tudo, ter foco é olhar a minoria e saber que fazemos parte dela. E quando este dia chegar, a nossa arrogância e o nosso orgulho terão ficado para trás.

Enfim, quero encerrar este texto, mas não a reflexão, trazendo um pensamento provocador de John Carmack, programador americano, que diz:

“Foco é muitas vezes uma questão de decidir o que você não vai fazer. ”

E decidir o que não vamos fazer muitas vezes nos coloca no final da fila. Significa abrir mão, muitas vezes, de vantagens ilusórias, de aparecermos na foto.

Em tempos de excessos, de exageros, de exposições e de palco que escondem as nossas pequenezas e a nossa total falta de foco, decidir o que não fazer é uma difícil tarefa. Se algo não trouxer tanta exposição e palco, será mais fácil abrirmos mão e não o fazer. Porém, abrirmos mão de algo que nos trará exposição, luzes e palco será praticamente impossível.

Que o foco seja mais que uma palavra em nosso vocabulário: que ele se transforme em comportamento, em um ideal de vida, em uma ferramenta de construção.

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