Foi-se o tempo que tínhamos
tempo. Se é que ele existiu um dia. Talvez na infância, o que também faz tempo.
Lá, o tempo nos sobrava; hoje ele
nos falta. Na infância, usávamos o tempo com sabedoria e fazíamos o que
precisava; hoje, este mesmo tempo talvez esteja sendo utilizado sem sabedoria,
e muitas vezes desperdiçado. Por isto ele nos falta. E muito.
Foi-se o tempo que parávamos para
conversar. A velha pergunta: “Olá, tudo bem? ” refletia sinceridade e interesse
em saber do outro. Hoje perguntamos apenas por educação: “Olá, tudo bem?
Desculpa, estou correndo...depois a gente se fala...me liga...me passa um zap..., #partiu...”
O que nos faz achar que hoje não
temos tempo? O que nos faz achar que antigamente tínhamos mais tempo? O que nos
faz achar que hoje as coisas andam corridas mais que ontem? O que nos faz
acreditar nestas conclusões a que chegamos?
Arrogâncias de nossos tempos.
Quanto mais ocupado estivermos, menos tempo teremos para nos conhecer, para nos
revisitar, para nos reconectar. Quanto mais para o externo estivermos, menos
foco teremos. E quanto menos foco, mais à deriva pela vida...
Ter foco é questionar as máscaras que vestimos.
Será que antigamente fazíamos
menos coisas ou fazíamos, apenas, o
que era necessário e importante?
Revisitar os nossos
comportamentos e escolhas nos ajudará a descobrir os motivos para a nossa falta
de tempo. Inúmeras podem ser as explicações para esta nossa envaidecida falta
de tempo. Mas para este texto, escolhi apenas um motivo para explorar: o foco.
Foco como sinônimo do que
importa. Da essência. Do verdadeiro. Do que é preciso.
vídeo tirado da internet
Pessoas com foco têm tempo. São
pessoas que fazem o que precisa e fazem o que é certo. Fazem muitas coisas.
Iniciam e terminam. São excelentes começadores e finalizadores. Não deixam as
coisas pela metade. Não desviam a sua atenção. São pessoas que acreditam no que
fazem e seguem o caminho que escolheram. E quando olham para trás, é apenas
para ver se nada ficou esquecido. Mas logo retomam o caminho. São pessoas
firmes, que não perdem tempo com bobagens. E por quê? Porque têm foco.
Uma escolha de vida. Uma escolha
difícil. Uma forma de caminhar.
Ter foco é saber dizer não. É valorizar a sua opinião, sem desprezar a
do outro.
Ter foco é participar do que importa e não do que te autopromoverá.
Parece óbvio dizer que ter foco
significa saber o que se quer. Mas isto não basta: é preciso, também, buscar o
que se quer. Merecer o que se quer. Conquistar o que se quer. Criar oportunidades
para se ter o que se quer. Criar atalhos sustentáveis para trilhar o caminho
até chegar aonde se quer.
Por tudo isto, ter foco não é das
tarefas mais fáceis. Não é uma escolha fácil. Ainda mais que durante o trajeto,
muitas serão as interrupções e os problemas que somente aquele que aceitar a
caminhada saberá dizer.
Deixar a vaidade e o orgulho de
lado, durante o trajeto, será determinante para aquele que quiser ter foco.
Foco, muitas vezes, significa rever conceitos, duvidar e questionar.
Ressignificar. Foco significa
fazer as escolhas certas.
Somos apressados. Somos ansiosos.
Estamos num tempo que ainda não chegou e não sabemos se chegará. Queremos estar
no amanhã sem ainda termos vivido o hoje.
Queremos ver o final da história,
o final do filme, interrompemos a fala do outro, completamos frases, tudo isto
em nome de uma pressa construída por terceiros que, por meio de nossos
comportamentos, ajudamos a manter. Tudo isto nos faz perder o foco.
Perdemos o foco porque fugimos do
essencial. Ter foco significa saber o que importa.
Estamos sempre com as agendas
cheias e cheios de compromissos, muitas vezes, adiáveis. Se abrirmos mão de
estarmos e de sermos disponíveis o tempo todo, teremos foco e,
consequentemente, tempo.
A nossa falta de foco nos transforma
em expectadores diante à vida. Mas é preciso mais. A vida pede mais da gente.
Podemos fazer mais.
Pessoas nos fazem perder tempo por
falta de foco.
Pessoas perdem seu tempo por
nossa falta de foco. É preciso pensar sobre isto.
Ter foco é delegar quando se
pode. É pedir ajuda sem sentir vergonha.
Ter foco é pedir desculpas sem
constrangimentos tolos. É abrir mão de respostas prontas.
É acreditar no simples. É ter
atitudes simples. É valorizar o pequeno.
Acima de tudo, ter foco é olhar a
minoria e saber que fazemos parte dela. E quando este dia chegar, a nossa
arrogância e o nosso orgulho terão ficado para trás.
Enfim, quero encerrar este texto,
mas não a reflexão, trazendo um pensamento provocador de John Carmack, programador
americano, que diz:
“Foco é muitas vezes uma questão
de decidir o que você não vai fazer. ”
E decidir o que não vamos fazer
muitas vezes nos coloca no final da fila. Significa abrir mão, muitas vezes, de
vantagens ilusórias, de aparecermos na foto.
Em tempos de excessos, de
exageros, de exposições e de palco que escondem as nossas pequenezas e a nossa
total falta de foco, decidir o que não fazer é uma difícil tarefa. Se algo não
trouxer tanta exposição e palco, será mais fácil abrirmos mão e não o fazer.
Porém, abrirmos mão de algo que nos trará exposição, luzes e palco será
praticamente impossível.
Que o foco seja mais que uma
palavra em nosso vocabulário: que ele se transforme em comportamento, em um
ideal de vida, em uma ferramenta de construção.
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