quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Qual é o tamanho da sua escada?

imagem tirada da internet

Outro dia, passando perto de uma construção, vi uma escada bem comprida, daquelas de madeira, um tanto gasta pelo uso, mas ainda disposta a ajudar quem precisasse dela. Ela tinha vários degraus, todos irregulares, de tamanhos e alturas diferentes. Mas ainda assim era uma escada. Uma escada cansada em função do tempo percorrido, do servir, do esforço, mas firme o bastante para ainda aguentar mais algumas subidas e descidas. Firme o bastante para não ser confundida com nenhuma outra ferramenta, com nenhum outro utensílio.

Fiquei pensando em nossas escadas individuais que nos conduzem pela vida. São elas que nos cedem, gentilmente, seus degraus para subirmos ou para descermos. Ou, até mesmo, para ficarmos no meio do caminho, parados, estacionados, ou perdidos, mesmo. Isto dependerá de nossas escolhas e do nosso estar na vida.

Escadas podem ser de vidro, de madeira, de metal, de pedra...podem ou não terem corrimão. Diferentes nas medidas, nas alturas, nos materiais, nas cores. Pouco importa. O fato é que todas, independentemente de cores e afins, conduzem. Todas, sem exceção. E a nossa escada não seria diferente. Somos conduzidos pela vida por meio dela.

Portanto, a escada que temos faz toda a diferença para nós.

Qual é o tamanho da nossa escada?

Ela é suficientemente grande para nos levar aonde queremos? Ou para o que queremos, o tamanho dela basta? Ou então, como não sabemos aonde queremos chegar, o que importa o tamanho dela?

Nossas escadas podem estar enferrujadas ou tinindo ou paradas no fundo do quintal ou quebradas ou ultrapassadas ou velhas. Não importa quantos ous tenha em nossa história. Mas saber o estado da nossa escada, isto importa. E muito.

Há escadas tão altas que se perdem de vista. Há aquelas que nos derrubam porque seu piso é muito liso. Dependendo da queda, não nos levantamos mais. Mas há as quedas emocionais que também estão escondidas nos degraus de muitas escadas. Estas são as piores.

Qual é o tamanho da sua escada?

Depende de suas escolhas, ambições, perseguições, desistências e persistências...

Para desistências, escadas mais curtas. As grandes não serão necessárias uma vez que muitos dos degraus não serão utilizados.

Para busca incessante, escadas longas e desejo de longas pernas para alcançá-la. O tamanho de nossas pernas também é determinante para adequação da escada.

Para ambição além da conta, há as escadas que quebram as pernas. Aquele degrau que foi afrouxando no decorrer do tempo e que fizemos de conta que não vimos. E agora, ele veio cobrar a conta. Espatifou-se quando resolvemos pisar nele.

Para vaidade desmedida de querer ser o mais rápido na subida, cuidado: a vitória está no caminhar e no apreciar a vista. A chegada é só uma consequência para aqueles que acreditam. E apreciar a vista enquanto faz a caminhada nos ajuda a acreditar.

E se no meio do caminho descobrirmos que um dos degraus de nossa escada precisa de ajustes, por que não pedirmos ajuda? Aceitar ajuda nos faz livres para o recomeço...com a mesma escada...

Aceitar ajuda é para os fortes e para os que usam suas escadas.

Degraus próximos para os mais preguiçosos, de pernas curtas, e que fazem questão de não enxergarem que suas pernas dão conta disto.

Degraus próximos, muito próximos. Até uma criança sobe? A vida espera mais da gente.

Degraus distantes para aqueles que valorizam demais a dor, a dificuldade, o não alcançar. Por que não criamos um degrau intermediário? Ao mesmo tempo, degraus distantes fortalecem as nossas pernas enquanto subimos. Talvez este seja o nosso diferencial lá na frente. Talvez. O mundo nem sempre é justo.

Escadas servem para ajudarmos alguém a subir. Afinal, estamos no degrau acima.

Escadas servem para empurrarmos o outro. Afinal já chegamos, não é mesmo? Não precisamos de companhias...

Escadas são o nosso meio de transporte no decorrer da vida. São feitas sob medida para cada um de nós.

Há aqueles que preferem as rolantes. São rápidas, eficientes, deslizantes e muito, muito mais confortáveis...apenas enquanto funcionam. Pois na primeira parada, lá vamos nós engrossar a fila dos que precisam usar a escada manual.

Todo este tempo utilizando, apenas, as rolantes, corremos o risco de esquecer de como é subir degraus com os nossos pés. E este esquecimento vai atrofiando nossos demais saberes. Estas escadas têm este poder: vão minando nossas forças discretamente...mas com o nosso consentimento, mesmo que inconsciente.

Os pés superficiais das escadas rolantes só nos servem enquanto a escada funciona. Quando ela quebra, quebramos também. Para elas, há conserto; para nós, ainda não...

Nossas escadas foram feitas para serem usadas e marcadas com os nossos pés. Que ela envelheça pelo uso e não pela falta dele. O uso demarca o nosso espaço no mundo. Faz-nos donos das nossas vontades. Dos nossos saberes. E das nossas responsabilidades.

Eu quero. Eu subo. Eu quero. Eu desço. Eu quero. Eu paro. Eu não quero. Estaciono.

E muitos ficaram para trás, por conta de suas escadas não utilizadas ou subutilizadas. As marcas de nossos pés podem ajudar o outro a retomar o caminho.

E muitos vão lá na frente, por conta de suas escadas sujas, utilizadas, manchadas e marcadas. As marcas dos pés deles podem nos servir de inspiração dos lugares aonde podemos chegar.

Muitas podem ser as reflexões e metáforas acerca de escada. Muitos são os significados. E todos estarão certos porque serão reflexões sobre cada um de nós.

Não importa a cor da sua escada, o formato, o tamanho, o material. O que importa é que ela existe e está a sua espera, ou melhor, a espera de seus pés.

Quero encerrar este texto, mas não a reflexão, com uma frase de Franz Kafka, escritor alemão do século XIX, que diz:

“Um degrau de escada que não foi desgastado a fundo é, do seu próprio ponto de vista, apenas algo de madeira montado no ermo. ”

Que possamos olhar para nossas escadas e reconhecermos, nelas, nossos passos e nossas marcas. E que, envelhecidas, nossas escadas nos sirvam de espelhos de nós mesmos. E assim, nos orgulharmos de um dia termos tido a coragem de iniciarmos a nossa caminhada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário