segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Temos mais que bananas

Bem mais, aliás.  Apesar de todo o respeito que as bananas merecem, aqui há mais coisas. Mas parece que aquele nadador americano, que inventou ter sido assaltado durante as Olimpíadas, no Rio, não sabia disto. Ser mal informado na vida tem os seus custos. E a conta dele foi um pouquinho alta. Bem feito para ele. E sorte a nossa.

Bem feito para ele porque foi uma dura lição. Aprendeu, a duras penas, que tentar manipular o que quer que seja, nesta vida, é muito perigoso. Ele acreditou que pudesse manipular a bagunça que ele havia criado, a favor dele. E viu que não foi possível. Acreditou que pudesse manipular as aparências, mas a realidade prevaleceu.

E sorte a nossa porque, por meio deste triste acontecimento, pudemos agir de forma profissional, ética e justa. Nossa Justiça não manipulou aparências, mas trabalhou de forma autêntica e verdadeira. Assumiu uma postura firme, rápida e eficiente. Simples assim.

Aquele nadador quis colocar, literalmente, nas nossas costas, a culpa das irresponsabilidades dele. Aprontou durante a noite carioca e, depois, percebendo que poderia comprometer sua imagem, devido às algazarras realizadas, não pensou duas vezes: inventou uma história dizendo que tinha sido vítima de assalto. Disse ainda que tinha sido constrangido pela nossa polícia. E que por causa disto tinha chegado de madrugada.

Porém, o que ele não contava era que desconfiaríamos daquela história mal contada por ele mesmo, com requintes de exageros e de molecagem. Ele também não contava que praticamente toda a cidade estava rodeada de câmeras de segurança e que, portanto, as imagens de todo o seu trajeto estariam, rapidamente, nas mãos dos investigadores. A polícia, de forma integrada, conseguiu rapidamente mapear o que havida acontecido. E para piorar a situação dos farsantes, algumas testemunhas colaboraram com os policiais e a verdade veio à tona. Pois é, temos mais que bananas aqui.

Tudo esclarecido. Ao mesmo tempo, muito triste. Nada disto era necessário. Alguém, de caráter duvidoso como aquele rapaz, resolveu colocar na nossa conta mais uma culpa. Mas esta nós não tínhamos. Graças, enfim.

Percebendo, rapidamente, que podia ser desmascarado, o rapaz tentou voar imediatamente para os Estados Unidos. Mas, ainda dentro do avião, foi convidado, gentilmente, a se retirar para prestar esclarecimentos na delegacia.

Pois é, seria bom que aquele rapaz soubesse que aqui há mais que bananas, muito mais.

O triste de tudo isto é saber que se aquele rapaz fez o que fez foi porque acreditou que aqui não haveria punição. Que aqui, um País subdesenvolvido, violento e cheio de problemas, um a mais um a menos. Que diferença faria, não é mesmo? Ele apostou nisto. Mas o tiro saiu pela culatra. Não que ele não tivesse razão em pensar que somos violentos e cheio de problemas.  Infelizmente isto ainda é a nossa realidade. Mas daí a agir sem escrúpulos e sem caráter, fico me perguntando quem é o mais subdesenvolvido: nós, enquanto Nação, ou ele, enquanto ser humano? Queria fazer esta pergunta a ele, mas acho que não terei oportunidade...

Se a história teve o seu lado triste, a degradação do humano, teve, também, o seu lado feliz. O de percebermos que temos condições de agir, de fazer, de atuar, de colocar as coisas nos seus devidos lugares e eixos. Não somos um entra-e-sai sem ordem e sem norte. Temos uma rota, sabemos o caminho e o melhor: temos as ferramentas para trilharmos esta rota. Basta que queiramos trilhá-la, assim como fizemos com este caso.

Sabendo que não tinha saída, ele pediu desculpas “informais” ao Brasil, por meio das redes sociais. Pagou uma multa e foi embora. Mas a história ainda não tinha sido concluída. A juíza responsável, por meio de nota oficial à imprensa, inclusive internacional, despachou tudo o que havia acontecido, com os detalhes daquela história amadora criada por outro amador.

No texto ela disse que o país de origem do rapaz tomaria ciência de todo o ocorrido, para que tudo ficasse esclarecido. E a multa fixada por esta mesma juíza foi destinada a uma casa assistencial. Belo exemplo de cidadania utilizando o dinheiro de um impostor!

Importante lembrar que até tudo ficar esclarecido, a imprensa americana apoiava o esportista-amador, e nem estava se preocupando muito com o interesse que o Brasil tinha em esclarecer tudo. Um repórter de lá, tinha que ser, disse: “não sei porque tamanha repercussão. Lá (Brasil) é perigoso mesmo! É normal este tipo de coisa acontecer por lá (assalto) ”. O interessante é que eles falam isto como se fossem a referência da Paz mundial.

“Que atirem a primeira pedra”...já dizia Jesus há mais de 2000 anos...

Mas tudo bem, a vida ensina. Mesmo àqueles que não querem aprender.

Foi somente depois de tudo esclarecido que os Estados Unidos, com um misto de surpresa e de vergonha alheia pelo o que aquele rapaz havia feito, que se redimiram diante às câmeras e pediram desculpas ao Brasil dizendo ter sido abominável o comportamento do aprendiz de nadador.

Tudo esclarecido: fatos postos sobre a mesa. De um lado, aquele pseudonadador aprendeu que toda ação tem consequências. E que muitas vezes, estas consequências são bem diferentes das esperadas e que resultam no enfraquecimento de sua personalidade. Ele perdeu quatro contratos com patrocinadores. Uma vergonha. Uma lição dura que jamais ele se esquecerá. Percebeu, também, que por mais difícil que seja, é mais fácil assumir, de forma autêntica, nossa personalidade do que construí-la sem poder sustentá-la.

E do outro lado, também aprendemos uma dura lição: o quanto é difícil ter de conviver com pessoas que cometem atos para tripudiar sobre aqueles que já possuem problemas demais para serem resolvidos: no caso, nós. Mas também aprendemos que temos condições de mudar este cenário se quisermos. Está em nossas mãos.

Aquele nadador talvez tenha tido privilégios cedo demais na vida. Muito antes de ter tido responsabilidades. E isto é uma reflexão para levarmos para as nossas vidas. Importante aprendermos com os erros dos outros para que não sejamos os próximos a cometê-los.

Quero encerrar este texto, mas não a reflexão, com uma provação de Confúcio, pensador e filósofo chinês, que viveu há 500 anos antes de Cristo:

“O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros. ”

Que possamos aproveitar nossos próprios exemplos de homens comuns que somos. E que eles nos sirvam de pontes para buscarmos nossa superioridade moral.

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