Algumas pessoas podem te olhar de
forma estranha se ouvirem você dizer que frequenta boas alfaiatarias. Ainda
mais em tempos de fast, likes, zap-zap
e afins. É tudo tão corrido, tão irritantemente urgente que dizer que vai a um
alfaiate é, no mínimo, sujeitar-se a receber um maldoso comentário: “nossa,
isso ainda existe? ” ou “por que você não compra uma roupa pronta? É mais fácil.
”
Claro que é mais fácil, e mais
descartável também. Mas somente aprendemos esta lição quando a roupa se
desgasta.
Comprar roupas prontas é bom e
necessário. Já imaginou fazer todas as suas roupas com uma costureira ou com um
alfaiate? Inviável em todos os sentidos.
Mas eu diria que, em momentos
ímpares de nossas vidas, fazer algumas roupas com a costureira ou com um
excelente alfaiate seria imprescindível para todos nós.
Mas quem está preocupado com
isso, se é tão chique ter uma agenda cheia de compromissos? Muitas pessoas se
sentem bem com agendas cheias. Há um falso paradigma de que, desta forma, serão
consideradas necessárias e importantes: #façopartedacorreria!
Falando sobre isto, me lembro de
duas palavras: poder e vaidade. Mais do que palavras, elas ditam costumes e
culturas desde a antiguidade. Fazem parte de nós. Em alguns mais; em outros
menos. Mas fazem parte de nós. Acho que história abaixo ilustra bem este
raciocínio:
O Mandarim e o Alfaiate
Um dia, um homem recebeu a
notícia de que tinha sido nomeado mandarim.
Ficou tão eufórico que quase não
se conteve.
- Serei um grande homem agora,
disse a um amigo. Preciso de roupas novas imediatamente. Roupas que façam jus à
minha nova posição na vida.
- Conheço o alfaiate perfeito
para você, replicou o amigo. É um velho sábio que sabe dar a cada cliente o
corte perfeito. Vou lhe dar o endereço.
E o novo mandarim foi ao
alfaiate, que cuidadosamente tirou as suas medidas. Depois de guardar a fita
métrica, o homem disse:
- Há mais uma informação que
preciso ter. Há quanto tempo o senhor é mandarim?
- Ora, o que isso tem a ver com a
medida do meu manto? Perguntou o cliente surpreso.
- Não posso fazê-lo sem obter
esta informação, senhor. É que mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com
o cargo que mantém a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito. Assim
sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a parte de trás. Anos mais
tarde, quando está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos da
experiência o tornam sensato, e ele olha adiante para ver o que vem em sua
direção e o que precisa ser feito a seguir, aí então eu costuro o manto de modo
que a parte da frente e a de trás tenham o mesmo comprimento. E mais tarde,
depois que seu corpo está curvado pela idade e pelos anos de trabalho
cansativo, sem mencionar a humildade adquirida por meio de uma vida de
esforços, então faço o manto de forma que as costas fiquem mais longas que a
frente. Portanto, tenho que saber há quanto tempo o senhor está no cargo para
que a roupa lhe assente apropriadamente.
O novo mandarim
saiu da loja pensando menos no manto e mais no motivo que levara seu amigo a
mandá-lo procurar exatamente aquele alfaiate.
Esta história foi retirada do
livro “O livro das Virtudes II - O Compasso Moral”, de William J. Bennett, cuja
reflexão cabe a todos nós e é de uma mensagem atemporal.
O mandarim vivia nos antigos
impérios da China, pertencia à classe dos letrados. Era geralmente uma pessoa
importante e influente. Agora começamos a entender porque ele queria roupas
novas...
imagem tirada da internet
...ainda bem que ele foi a um
sábio alfaiate que ensinou a ele valiosas lições sobre a inutilidade da vaidade
para as nossas vidas. Além da cegueira que o poder nos traz, se mal utilizado.
imagem tirada da internet
Aliás, se pesquisarmos a origem
da palavra vaidade, ela possui uma raiz latina, que se escreve vanus, e
que significa “vazio, ocioso”; e outra raiz indo-europeia (que era utilizada
antes do latim, em tempos remotíssimos), que se escreve wa-no-, que
significa “deixar, abandonar, desistir”. Esta palavra também traz outro significado,
agora em hebraico, que é: qualquer coisa invisível que logo desaparece.
Por essas e outras, ainda bem
que, mesmo em tempos de fast, o
alfaiate e a costureira persistem. Sábios eles. Todos precisam de alfaiates e
de costureiras porque a vaidade está presente em todos nós, sem exceções.
E para aqueles que se julgam
modestos, sem vaidades, Mário Quintana, um dos maiores poetas da Literatura,
tem uma resposta:
“A modéstia é a vaidade escondida
atrás da porta. ”
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