segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Você tem um bom alfaiate para indicar?

Algumas pessoas podem te olhar de forma estranha se ouvirem você dizer que frequenta boas alfaiatarias. Ainda mais em tempos de fast, likes, zap-zap e afins. É tudo tão corrido, tão irritantemente urgente que dizer que vai a um alfaiate é, no mínimo, sujeitar-se a receber um maldoso comentário: “nossa, isso ainda existe? ” ou “por que você não compra uma roupa pronta? É mais fácil. ”

Claro que é mais fácil, e mais descartável também. Mas somente aprendemos esta lição quando a roupa se desgasta.

Comprar roupas prontas é bom e necessário. Já imaginou fazer todas as suas roupas com uma costureira ou com um alfaiate? Inviável em todos os sentidos.

Mas eu diria que, em momentos ímpares de nossas vidas, fazer algumas roupas com a costureira ou com um excelente alfaiate seria imprescindível para todos nós.

Mas quem está preocupado com isso, se é tão chique ter uma agenda cheia de compromissos? Muitas pessoas se sentem bem com agendas cheias. Há um falso paradigma de que, desta forma, serão consideradas necessárias e importantes: #façopartedacorreria!

Falando sobre isto, me lembro de duas palavras: poder e vaidade. Mais do que palavras, elas ditam costumes e culturas desde a antiguidade. Fazem parte de nós. Em alguns mais; em outros menos. Mas fazem parte de nós. Acho que história abaixo ilustra bem este raciocínio:

O Mandarim e o Alfaiate
Um dia, um homem recebeu a notícia de que tinha sido nomeado mandarim.

Ficou tão eufórico que quase não se conteve.

- Serei um grande homem agora, disse a um amigo. Preciso de roupas novas imediatamente. Roupas que façam jus à minha nova posição na vida.

- Conheço o alfaiate perfeito para você, replicou o amigo. É um velho sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou lhe dar o endereço.

E o novo mandarim foi ao alfaiate, que cuidadosamente tirou as suas medidas. Depois de guardar a fita métrica, o homem disse:

- Há mais uma informação que preciso ter. Há quanto tempo o senhor é mandarim?

- Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu manto? Perguntou o cliente surpreso.

- Não posso fazê-lo sem obter esta informação, senhor. É que mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que mantém a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito. Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a parte de trás. Anos mais tarde, quando está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos da experiência o tornam sensato, e ele olha adiante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito a seguir, aí então eu costuro o manto de modo que a parte da frente e a de trás tenham o mesmo comprimento. E mais tarde, depois que seu corpo está curvado pela idade e pelos anos de trabalho cansativo, sem mencionar a humildade adquirida por meio de uma vida de esforços, então faço o manto de forma que as costas fiquem mais longas que a frente. Portanto, tenho que saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente apropriadamente.

O novo mandarim saiu da loja pensando menos no manto e mais no motivo que levara seu amigo a mandá-lo procurar exatamente aquele alfaiate.

Esta história foi retirada do livro “O livro das Virtudes II - O Compasso Moral”, de William J. Bennett, cuja reflexão cabe a todos nós e é de uma mensagem atemporal.

O mandarim vivia nos antigos impérios da China, pertencia à classe dos letrados. Era geralmente uma pessoa importante e influente. Agora começamos a entender porque ele queria roupas novas...

imagem tirada da internet

...ainda bem que ele foi a um sábio alfaiate que ensinou a ele valiosas lições sobre a inutilidade da vaidade para as nossas vidas. Além da cegueira que o poder nos traz, se mal utilizado.

imagem tirada da internet

Aliás, se pesquisarmos a origem da palavra vaidade, ela possui uma raiz latina, que se escreve vanus, e que significa “vazio, ocioso”; e outra raiz indo-europeia (que era utilizada antes do latim, em tempos remotíssimos), que se escreve wa-no-, que significa “deixar, abandonar, desistir”. Esta palavra também traz outro significado, agora em hebraico, que é: qualquer coisa invisível que logo desaparece.

Por essas e outras, ainda bem que, mesmo em tempos de fast, o alfaiate e a costureira persistem. Sábios eles. Todos precisam de alfaiates e de costureiras porque a vaidade está presente em todos nós, sem exceções.

E para aqueles que se julgam modestos, sem vaidades, Mário Quintana, um dos maiores poetas da Literatura, tem uma resposta:

“A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta. ”

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