imagem tirada da internet
Quando tentamos agir contra a
nossa natureza, o resultado é o sofrimento e o desequilíbrio.
Sofremos porque tentamos manter
uma aparência de quem não somos. É como se vestissem uma capa obrigatória em
nós, e nos obrigassem a caminhar com ela. Mas como esta capa é curta e
apertada, não cabemos nela. E aí nos machucamos: física e emocionalmente. No
sentido físico, porque esta capa cria marcas em nós, evidenciando, a todo o
momento, que aquele não é o nosso tamanho, e no sentido emocional, porque esta
falsa capa vestida fica, a todo instante, iluminando nossa essência e nossos
valores escondidos e camuflados, com medo de surgirem e de mostrarem a face.
Obviamente que nem tudo são
flores quando investigamos a nossa natureza. Acredito, inclusive, que há mais
espinhos que flores, na nossa natureza. Mas, o que verdadeiramente importa, é
saber que temos a capacidade de transformar estes espinhos em flores.
Investigar a nossa natureza e buscar o aprimoramento diário é tarefa árdua, mas
recompensadora. Da mesma forma que sofremos se agirmos contra a nossa natureza,
deixá-la completamente livre é abrir mão do autoconhecimento. É preciso,
portanto, equilíbrio entre agir de acordo com o que somos (nossa natureza), versus compreender e aparar os espinhos
de nossa natureza para que eles não firam e machuquem aqueles que fazem a mesma
caminhada que a gente.
Agir de acordo com a nossa
natureza é não fugir da nossa essência, é não abrir mão de quem somos. É
assumir o nosso lugar no mundo.
É saber o que se passa em nossos avessos, entrelinhas, bastidores e
porões e, mesmo assim, não desistirmos da gente. É fincarmos os nossos pés no
chão e não cedermos o nosso lugar, simplesmente porque aquele é o nosso lugar.
E ao mesmo tempo que fincamos os nossos pés, olhamos as deficiências
deles e assumimos que somos falíveis e inacabados. É preciso, pois, firmar os
pés, sim, mas sem deixar de aprimorar as nossas pegadas, sem deixar de corrigir
nossos passos e sem deixar de assumir nossas necessidades de crescimento.
Equilíbrio e constância: dois
lados da mesma moeda, mas que duvidamos porque não os enxergamos. Ora partimos
radicalmente para esquerda, ora para a direita. Por que não o caminho entre
estas duas coisas? Simplesmente porque ainda o desconhecemos.
É como se participássemos do
movimento de um pêndulo: os resultados obtidos serão mediantes à força e à
forma com que as esferas foram manuseadas. Até que o equilíbrio se estabeleça,
muito trabalho haverá de ser feito.
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Aprendermos a lidar com isto é
aliviar e amenizar as nossas dores. Não há atalhos e outros caminhos. Quando
reconhecemos nossos desequilíbrios e nossas frustradas tentativas de ser quem
não somos, teremos dado início ao processo de cura. É um longo caminho, mas de
frutos no final, certamente. A dor do desequilíbrio e da consciência da
imperfeição que há em nós precisa ser processada para poder ser tratada.
O desinvestimento em nós é a
causa da dor. E isto faz paralisar a vida que buscamos e que queremos. Ninguém
deve buscar a dor, obviamente. Mas reconhecê-la como constituinte de nossa
personalidade é fundamental se quisermos buscar e chegar a um equilíbrio, assim
como um pêndulo.
A dor e o desequilíbrio nos equilibram desde que não caminhemos por
caminhos já caminhados.
Conhecemos a dor para reconhecermos
a alegria. Conhecemos a solidão para reconhecermos a companhia. Conhecemos a
escuridão para reconhecermos a claridade. Conhecemos o conflito para
reconhecermos a paz.
O caminho se constrói com pedras
e materiais pesados e densos. E a dor e o desequilíbrio fazem parte deste
arsenal de materiais necessários para a nossa construção.
Acredito, de verdade, que chegará
o dia que o sofrimento, as dores e os desequilíbrios não serão mais necessários
para que nossa consciência caminhe sozinha. A alegria acontecerá, simplesmente.
Sem motivos aparentes, sem despertadores. Seremos alegres pela alegria em si,
mas não por termos vivenciado a tristeza. E neste dia, estes despertadores não
serão mais úteis para nós. Terão caído em desuso por obsolescência, uma vez que
o nosso despertar já terá acontecido. E aquelas capas que tentaram colocar em
nós, e que também colocamos nos outros, não serão mais realizadas. Terão caído
de moda.
Quero encerrar este texto, mas
não a reflexão, com duas passagens do poema de Paulo Leminski, A Dor Elegante,
que diz:
“Um homem com uma dor é muito
mais elegante...carrega o peso da dor como se portasse medalhas...”
Que a gente não se porte elegante
ao sofrer, ao sentir dores, forçando nossas costas para suportá-las. E que a
gente também não se orgulhe delas como se fossem medalhas. Medalhas, estas, que
não gostaríamos de ter ganho. Valorizar e buscar a essência que há em nós,
fazer valer a nossa estada no mundo e fincar os nossos pés no lugar que é
nosso, por direito e mérito, aliviará a dor de nossas costas. E, ironicamente,
este comportamento diminuirá o nosso quadro de medalhas, pelo menos este.
E a segunda passagem do poema que
convido à reflexão é:
“...não me toquem nessa dor. Ela
é tudo que me sobra.
Sofrer vai ser a minha última
obra. Ela é tudo que me sobra.
Viver vai ser a minha última obra.
”
Que a gente não faça de nossas
dores, a dor do nosso próximo. E que nossas dores não sejam desculpas para a
não realização. É preciso tocá-las para que possam ser reconhecidas.
Que a dor, jamais, seja a nossa
última obra. Elas sempre existirão. Fazem parte da gente. Que a nossa última
obra, seja, portanto, a nossa própria vida buscando, sem desistir, viver e
conviver com as nossas dores e alegrias, num compasso que somente a própria
vida conhece o ritmo. A nós, só cabe respeitar.
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