A palavra eficiência pede férias.
Não há uma palestra, treinamento, evento, reunião, trabalho que ela não seja
pronunciada e requerida. Afinal, por meio dela, buscamos melhorar as nossas
entregas, os nossos números, os nossos trabalhos. Ela nos ajuda a enxergar o
que podemos melhorar naquilo que não vai bem.
Sempre quando ouço esta palavra
me lembro da Khazzoum, uma professora
de Língua Portuguesa que tive, na época da Faculdade. Ela sempre falava que o
bom e velho dicionário deveria nos fazer mais companhia. Que “consultá-lo, era
um sinal de inteligência”, dizia.
Lembro-me dela porque esta é uma daquelas palavras que utilizamos,
indevidamente, como sinônimo de eficácia. E não é. Elas até podem ter propriedades
que se entrecruzam. Mas não são sinônimos.
Eficiência é fazer bem alguma coisa. É ser rápido, preciso,
conciso. É fazer bem. Cumprir o seu dever. Eficiência é dar bons resultados.
Alguém competente e produtivo é alguém eficiente. Faz muito com poucos recursos
e ainda com qualidade.
Eficácia é fazer a coisa certa, diferentemente de fazer certa a
coisa. A eficácia, por se preocupar em fazer o que precisa ser feito, busca resultados relevantes e
sustentáveis. Alguém eficaz produz um resultado que é esperado dele. Tem foco,
sabe aonde quer chegar. Realiza o que precisa ser realizado, e não apenas o que
foi pedido para realizar.
Eficiência é fazer certo as coisas. Eficácia é fazer as coisas certas.
Por estas e outras que, de
verdade, um dicionário faz falta. Quando comparamos estes dois significados, os
sentidos se descortinam e reflexões emergem.
Podemos, então, ser extremamente
competentes fazendo o inútil e o desnecessário? Aquela triste sensação que
certamente já tivemos ao enxugarmos gelo, na vida, acho que dá conta de nos
mostrar que sim, podemos ser extremamente competentes fazendo o que não precisa
ser feito ou o que não deveria mais ser feito.
imagem tirada da internet
Pensar que estamos fazendo coisas
supérfluas e que muito do nosso tempo está sendo desperdiçado com o inútil e
com o desnecessário é assustador. Principalmente porque corremos o tempo todo
achando que, desta forma, daremos conta
de tudo o que precisamos fazer. E quem falou que tudo o que precisamos
fazer precisa ser feito?
Camuflamos nossas entregas sob o
nome de eficiência. Muitas delas são bem-vindas e têm a sua utilidade, mas
muitas não precisariam ter sido feitas. Ou seja, teríamos sido eficazes, e não,
somente, eficientes.
Quando refletimos sobre esta
questão, percebemos que a alienação sempre esteve ao nosso lado, nos fazendo
companhia. Somos eficientes, mas não capazes de atentar para o que está sendo
entregue e o porquê desta entrega. Ser eficiente é fundamental se quisermos nos
aprimorar como seres, como profissionais. Mas apenas a eficiência não nos
levará adiante. Ela nos deixará no meio do caminho, cheio de curvas, atalhos e
placas nos indicando diversas direções cujo sentido e o significado nos
escaparão.
A eficiência é fundamental no
mundo da operação, mas a eficácia é essencial no mundo do sentido e da essência.
Há eficiência sem eficácia. Porém, não há
eficácia sem eficiência.
É preciso que estes falsos
sinônimos comecem a nos incomodar. No incômodo, buscamos ajuda e conhecimento,
mesmo num bom e velho dicionário. Ao começarmos a nos debruçar sobre o real sentido
das palavras, a nossa vida vem atrás, querendo participar e se tornar mais
eficaz, uma vez que eficiente ela já sabe que somos.
Gostamos do elogio. Somos
vaidosos, orgulhosos e competitivos, muitas vezes. E a eficiência, se atingida,
nos fará receber elogios, o que alimentará a
nossa vaidade, o nosso orgulho e nos fará acreditar que competir é a melhor
forma. Que estar no pódio é o melhor lugar.
Enxergamos alucinações do alto de
um pódio e vemos coisas inexistentes em função das nossas visões deturpadas.
Quando descemos do pódio, a nossa visão se amplia. Quando estamos no pódio a
nossa visão se encurta.
A eficiência está para o pódio, assim como a eficácia está para a
descida do pódio. Nada contra vitórias e medalhas. Mas podemos ser
vitoriosos e ganharmos as nossas medalhas além desse lugar. E para enxergarmos
sentido em outros lugares para alcançarmos as nossas vitórias, somente
atingindo a eficácia em nossas vidas.
Conhecemos a eficiência porque
somos eficientes em muitas situações de nossas vidas. Fundamental e necessária.
Mas avançar para que a nossa eficiência esteja em sintonia com a nossa
eficácia, é a nossa lição de casa que, a propósito, está atrasada para ser
entregue.
Eficácia é a moeda de recompensa
que a vida nos presenteia por ter visto o nosso esforço de desprendimento do
nosso orgulho, vaidade. Pois não há como buscar a eficácia, em nós, sem
encontrarmos estes ilustres visitantes tão confortavelmente alojados, dentro da
gente.
Quando passamos a buscar a
eficácia em nossa vida, uma angústia aflorará e dará o ar da graça. Mesmo
conscientes da necessidade da busca da eficácia, precisaremos, muitas vezes, continuar
no mesmo modelo por falta de condições para que a mudança se exerça. Ainda não nos é possível desvencilharmos
destes velhos modelos. O fato de buscarmos as nossas reflexões, os nossos
avanços e o nosso desenvolvimento não significam que os conseguiremos
imediatamente. Por isso, mesmo fazendo nossas reflexões em busca da nossa
eficácia, ainda assim, nos encontraremos não sendo eficazes, na vida. O tempo,
a consistência da nossa busca e a regularidade darão conta de nos recolocar no
caminho. Só não podemos desistir. Foi muito trabalhoso e custoso chegarmos até
aqui.
Falhamos, muitas vezes, nas
nossas entregas que seguem ineficientes. Mas corrigimos rapidamente a rota e
seguimos. Temos facilidade de mapear os erros e reorganizar o caminho. Mas
temos extensas dificuldades para perceber que ser eficaz está longe de ser
eficiente.
Eficiente está no nível do
intelecto, da razão, do fazer. Eficácia está no nível da emoção, do sentir, do
propósito.
Para sermos eficientes, basta
talento, vontade, disciplina, foco, prazo, atenção. Para sermos eficazes, no
mínimo, é preciso nos conhecer. Sem isto, como fazer o que, de verdade, precisa
ser feito?
Ser eficiente é fazer bem algo. Nossas
mãos e mentes serão as grandes mestras. Ser eficaz é fazer a coisa certa, o que
precisa ser feito. É um trabalho interno. É ouvir o que o coração tem a nos
dizer. É fazer uma caminhada interna, sem guia e sem bússola.
Somos eficientes para entregar um
trabalho. Mas ineficazes para perceber a necessidade do colega. Eficientes para
cumprir prazos. Mas ineficazes para perceber que estes mesmos prazos não são o
suficiente para que o trabalho tenha relevância e sustentabilidade.
Somos eficientes para apontar o
erro. Mas ineficazes para o perdão. Eficientes para ganhar dinheiro. Mas
ineficazes para fazê-lo como meio para algo maior, e não como um fim, em si.
Somos eficientes para a
realização. Mas ineficazes para a compreensão. Eficientes na teoria. Mas
ineficazes na prática.
Somos eficientes para a entrega
de mais um brinquedo para o nosso filho. Mas ineficazes para entender a real
necessidade dele. Eficientes para a realização de um curso. Mas ineficazes para
aplicarmos o que aprendemos lá.
Se queremos ser eficientes, basta aprimorar a nossa técnica. Se queremos
ser eficazes, imprescindível será aprimorar o nosso olhar.
Muitas vezes, somos eficientes apenas
por conveniências e sustentação de nossas redes de políticas. Mas não há como
sermos eficazes passando por este mesmo caminho. A eficácia exige caminhos
distintos, mais tortuosos, menos lineares e cheio de incertezas. Um caminho
difícil que somente aquele que iniciou sabe do que se trata. Mas ao caminhar
por ele, a beleza da vista será indescritível.
Quero encerrar este texto, mas
não a reflexão, com uma provocação de Peter
Drucker, considerado o Pai da Administração Moderna, nascido no início do
século XX, que diz:
“Não há nada tão inútil quanto
fazer eficientemente o que não deveria ser feito”.
Que a gente não fuja desta
reflexão. Apesar de incômoda, ela é necessária. Quando descobrimos que fazemos
coisas de forma eficientes, porém desnecessárias, e que a eficácia passa,
obrigatoriamente, por uma revisitação a nós mesmos, o caminho fica mais leve.
E mais eficaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário