Sherlock Holmes
e Dr. Watson vão acampar.
Montam uma
barraca e, depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho, deitam-se para
dormir. Algumas horas depois, Holmes acorda e cutuca seu fiel amigo:
- Meu caro
Watson, olhe para cima e diga-me o que vê.
Watson responde:
- Vejo milhares
e milhares de estrelas.
Holmes então
pergunta:
- E o que isto
significa?
Watson pondera
por um minuto, depois enumera:
1) astronomicamente,
significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, bilhões de
planetas;
2) astrologicamente,
observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte;
3) temporalmente,
deduzo que são aproximadamente 03h15, pela altura em que se encontra a estrela polar;
4) teologicamente,
posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes; e
5) meteorologicamente,
suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?
Holmes fica um
minuto em silêncio, então responde:
- Watson, nada
disso! Significa apenas que roubaram nossa barraca!
Portanto, emprestando
o termo de Sherlock, elementar,
também, é a arte de simplificar as coisas. A vida, acredito, é mais simples do
que fazemos dela.
Sherlock Holmes dizia:
“Você vê, mas não observa. ” E realmente a observação está ficando para segundo
plano. Observamos pouco. Conhecemo-nos pouco. Interagimos pouco.
O descomplicar
as coisas passa pela observação, pelo pensar, pelo refletir, pelo conhecer,
pelo interagir. Se fizéssemos isto mais e frequentemente, seria possível aparar
as nossas arestas mais facilmente e, sem arestas, enxergaríamos realmente o que
precisa ser visto.
Descomplicar é
complicado. É complicado ser simples. Porque o simples não tem respaldo na
vaidade, nas falsas verdades. Ele é simples e pronto. Visível, aparente e
transparente. No entanto, o complicado e o prolixo têm respaldos que a
simplicidade, há muito tempo, abriu mão. E abrir mão tem o seu preço: o olhar
descrente daquele que te critica, e diz: “mas é só isso? ” Só que este “só isso” já disse tudo e demorou um
longo tempo para ser construído. Então
para que mais?
Ser simples é
estar exposto a um mundo que complica demais as coisas, que vê valor no
complicado. Simplificar é favorecer o acesso, a participação, o grupo, o
avanço.
Ser simples
significa descortinar, mostrar. Descortinar significa deixar mais pessoas
entrarem na sua conversa, e não somente aqueles que fizeram um curso na
faculdade de primeira linha, e que, portanto, têm visibilidade na sociedade dos
vaidosos.
Ser simples é o
contrário de ser complicado, que é aquele que adora uma extravagância e que faz
questão de dizer coisas que as pessoas não entendem. Foi uma das maneiras que
ele encontrou, na vida, de se sentir importante e melhor do que o outro.
Aquele que é
simples favorece o que tem valor e significado; aquele que é complicado
favorece os números, a quantidade, a propaganda, o cargo, a primeira página.
Confundimos,
ainda, ser simples com ser simplista. Ser simples, como dizia Leonardo da Vinci,
é “o último grau de sofisticação”, ou seja, um lugar aonde poucos vão chegar.
Ser simplista é menosprezar o fundamental, o imprescindível para que todos o
compreendam.
Ir direto ao
ponto, sem voltas e sem rodeios, é uma construção. Não conseguiremos isto da noite
para o dia. É um processo. Não dar voltas e descomplicar as coisas, o nosso
trabalho e tudo o que nos cerca são pontos fundamentais se queremos ser eficientes.
Complicamos,
também, porque achamos que isto nos fará ser mais respeitados. Mas o respeito
nasce da admiração que se tem. E só admiramos a quem respeitamos.
Simplificar é um
convite para rever etapas desnecessárias e, assim, se ter mais tempo para o que
realmente importa. É destituir-se da vaidade de que somente os complicados e os
muito complicados enxergam valor.
Simplificar é
não ocupar o tempo do outro com as nossas prioridades, com as nossas complicações,
com as nossas vaidades. Simplificar é sentir um profundo alívio ao dizer: “não
sei”.
Dizer “Eu não
sei” é libertador. E perigoso, também. Porque esta liberdade de dizer que não
sabe fará de nós, muitas vezes, solitários no caminho. Por isto devemos
escolher o nosso caminho sem olharmos para trás. E como diz a música: “não fique
procurando o que perder”.
Ser simples é diminuir
as etapas para se ter qualidade nas que ficarem. É preocupar-se com a qualidade
e não com a quantidade. Se somente a quantidade brilhar os nossos olhos, estejamos
certos de que a qualidade de tudo o que fizermos estará comprometida.
A quantidade, portanto,
altera a qualidade.
Ser simples é
ser eficiente. É fazer a reunião quando realmente ela for necessária, e não
porque a prolixidade e a ineficiência são nossas parceiras.
Marcamos uma
reunião para falarmos sobre outra reunião. Quem nunca fez isto, pode, por
favor, atirar a primeira pedra?
Ser simples é
ter uma linguagem cujo significado todos entendam. E ter uma linguagem simples
não é falar errado, não é utilizar termos vulgares e populares. Mas sim, dizer
o que precisa ser dito, é ser acessível a todos e não somente àqueles de
interesses pessoais. Falar difícil e complicado cria uma barreira e afasta o
outro.
Ser simples e,
consequentemente, ter uma vida simples e eficiente implica uma mudança. E mudar
requer uma capacidade de compreensão, de desejo de transformação e de desenvolvimento. Implica uma mudança na postura
do pensamento.
A vida não é
para ser vivida linearmente, alguém já disse isto.
O sucinto
escorrega na falta; o prolixo no excesso.
Por que, então,
complicamos? Vários são os motivos: desconhecimento, medo, vaidade, procrastinação,
prolixidade, burocracia, falta de humildade, etc. Portanto, encontrar a causa
do problema fará toda a diferença em nossa vida. Parece óbvio, mas não fazemos.
Por onde começar,
então? Questionando-nos e buscando conhecimento. Quem não se conhece vive à
deriva e viver à deriva é um convite a complicações. Precisamos ter foco e nos perguntar:
“Por que complicamos? Por que não conseguimos
decidir? ”
O diálogo
conosco nos levará para uma conscientização do nosso erro, das nossas negações.
Porém, será preciso aceitá-los. Aceitar que complicamos as coisas ajudará
bastante para iniciarmos o nosso processo de mudança. Portanto, o dialogar
conosco é crucial. Precisamos nos ouvir e conversar com pessoas da nossa confiança.
Aceitar opiniões diferentes. E lembrar-nos de que o diferente não é errado. É
só diferente. Simples assim.
Precisamos saber
qual é o nosso diferencial. Isto nos ajudará a seguir nos momentos da
travessia, da mudança. O nosso diferencial não nos deixará desistir.
Para encerrar o
texto, mas não a reflexão, deixo aqui uma frase do próprio Sherlock, que diz:
“O mais
importante da vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual
nos movemos. ”
Portanto, se
quisermos nos mover para a direção correta, certamente a simplicidade deverá
fazer parte do nosso caminho.
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