Há uma música escrita por
Guilherme Arantes e interpretada por Elis Regina, Aprendendo a Jogar, que diz:
“Vivendo e aprendendo
a jogar
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar...”
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar...”
Esta música somos nós. Vivemos e
aprendemos o tempo todo. Ora ganhamos, ora perdemos. E o gerúndio, presente no vivendo e no aprendendo, vem nos mostrar que o processo da vida é contínuo e que
está sempre em construção. Portanto, o caminhar é uma certeza. E assim sendo, enxergar
e identificar os aprendizados deste caminhar para que eles facilitem os nossos
próximos passos é, no mínimo, fundamental para nós. E este é o papel dos
aprendizados: nos recolocar na rota, nos fazer enxergar as placas do caminho
que, com pressa, passamos sem observá-las. Talvez nos falte descobrir isto. Por
isso ainda estamos vivendo e aprendendo...
Esta música é um migrar em nós
mesmos. A migração em nós é imprescindível se quisermos aprender a jogar. Não
há como aprender sem conhecer e navegar em nós.
A nossa escolha não está no viver e no aprender. Mas como realizar este
viver e este aprender.
Vivendo e aprendendo a jogar é uma condição imposta pela vida. Não
há como fugirmos disto. Mesmo que ficássemos parados diante à vida, ainda
assim, estaríamos vivendo e aprendendo.
Nem sempre ganhando nem sempre perdendo é uma consequência da nossa
condição de viver e de aprender. Também não há como fugirmos desta realidade.
Quando ganhamos é porque agimos de acordo com a vida; quando perdemos, é porque
agimos contra a vida. Simples assim. O difícil é colocarmos isto em prática.
Mas aprendendo a jogar é a nossa escolha neste nosso caminhar
chamado Vida. Quando aceitamos a condição da vida, que é viver e aprender,
assumimos as consequências desta condição, que são nem sempre ganhando e nem
sempre perdendo, conquistamos o direito de escolher, que é aprender a jogar. E a
partir deste momento nos tornamos autônomos e
livres.
Autônomos para que as influências
externas não nos atinjam. Autônomos para sermos os criadores da nossa
trajetória. Autônomos para agirmos e não somente reagirmos.
Livres para não nos colocarmos em
prisões impostas e criadas por nós. Livres para estarmos e sermos felizes mesmo
que não estejamos no palco. Livres para desejarmos desejar a liberdade.
Quando aprendemos a jogar, de
verdade, é porque, com ou sem a bola, sabemos o que fazer. Aprendemos a jogar
mesmo sem bola. E é preciso valorizarmos isto.
A conquista do aprender a jogar, que é uma metáfora de aprender
a viver, somente se dará no momento em que valorizarmos e dermos vozes às
nossas gavetas e aos nossos bastidores. Eles representam a essência que há em
nós. Mas os escondemos porque não dão ibope e porque temos a tendência de
escondermos as bases de nossa formação. Afinal, quem vai querer saber o que vão
nas nossas gavetas? O que há em nossos bastidores?
As nossas gavetas e os nossos
bastidores nos constroem. Eles estão cheios de Mas.
O mas de “mas aprendendo a jogar” é o momento no qual reconhecemos a
nossa imagem nos nossos bastidores. Quando chegamos neste momento, mas aprendendo a jogar, a vida terá
valido a pena. As máscaras não nos servirão mais, e o servir será um desejo
nosso, e não uma imposição da vida.
Somos cobrados, pela vida, a
aprendermos a jogar. Mesmo que ela não permita ensaios, como disse Chaplin, ainda assim ela nos oferece
oportunidades e chances de acertarmos e de começarmos de novo, mesmo que seja
de forma mais acelerada porque o tempo terá passado. Como se fosse um “Genius”...
imagem tirada da internet
Erramos, percebemos. Saímos do
tom. Desafinamos. Este é o aprendizado. E aí recomeçamos e buscamos ouvir a
música que toca no “Genius” com mais atenção para não desafinarmos novamente.
Este é o aprendizado. Este é o aprender. Este é o viver. Este é o convite que,
dependendo de nossas respostas, se tornará uma convocação.
A música do “Genius” toca
novamente. Mais atentos, seguimos e acertamos. Pegamos o jeito porque vivemos e
aprendemos. Ganhamos e perdemos muitas vezes. Recomeçamos. Aprendemos, de
verdade.
Quero encerrar este texto, mas
não a reflexão, com um pensamento de Guimarães Rosa, que diz:
“O real não está na saída nem na
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
Uma travessia bela e
recompensadora. Somente ela, acredito, nos levará a aprender a jogar, ou
melhor, a viver. E nesta hora, seremos livres e autônomos para verdadeiramente
ouvirmos a música que toca, na vida ou no “Genius”. E o melhor: seremos capazes
de entendermos a letra e o que ela, o tempo todo, quis nos dizer, mas que, por
ineficiência de nossos sentidos, não fomos capazes de entender.
Nenhum comentário:
Postar um comentário