Às vezes, entramos em lutas
apenas para nos lembrarmos das lutas que fugimos.
Às vezes, entramos em lutas
apenas para nos conscientizarmos das lutas que não deveríamos ter entrado.
O passar dos anos nos dá mais
armas para encararmos as armadilhas.
Caráter para ganharmos. Crenças
para perdermos.
Falta de caráter para disfarçarmos.
Força para conquistarmos. Força
para destruirmos.
Crença no possível porque não
acreditamos no impossível.
Falta de sonho.
Chegamos para criar opções. Chegamos
para tirar sonhos.
Chegamos para produzir o que
ninguém quer comprar ou o que ninguém precisa usar.
Entendemos o limite para
ultrapassá-lo.
Entendemos o limite de alguém
exatamente para não o respeitar. Somos bons nisto.
O que define são os detalhes.
As derrotas são inevitáveis para
se chegar às vitórias. Mas quem quer viver as derrotas? Não podemos passar para
alguém esta parte ou culpar alguém?
O erro não nos pertence. Eu
acerto. Ele erra. O erro não nos representa. Somos seres perfeitos. Não sei o
que fazemos aqui, em nosso mundo repleto de erros. Acho que estamos aqui por
engano.
Deus errou na estratégia. Acho
que confundiu as nossas fichas e nos mandou para cá indevidamente. Que pena!
Agora vamos precisar ficar.
A nossa força nos tira do gingado
da vida.
A lentidão tem tempo para mostrar
as nossas falhas.
A rapidez esconde as nossas falhas.
As marcas indicam paradas para
novos caminhos.
O carisma nos diferencia dos
iguais e dos formatados.
Os riscos nos levam ao deslize,
mas também aos acertos.
O oposto nos mostra que há outro
caminho, mas também nos mostra coisas que não gostaríamos de ver agora. “A
novela vai começar. Não pode ser depois? ”
A reflexão serve para sabermos em
qual parte da história estamos, mas também serve para nos lembrar de qual parte
dela deixamos de construir e de escrever.
Mas ainda dá tempo.
Falando nele, ele sabe ser cruel
com quem não é amigo dele. Mas sabe ser um excelente bem a quem o trata bem.
Interesseiro! Do que adianta discutir com ele? No final ele está sempre certo,
mesmo. É melhor aceitar e seguir.
Às vezes, acho que ele não tem
muita razão, não. Mas não mesmo! Mas o deixo pensar que tem. Assim ele continua
sendo meu amigo. Não é bom criar inimizades com quem é mais forte que a gente.
Dormir é excelente para o
repouso, mas também para perder o bonde. Se perdermos o bonde acordados, menos
mal. Quem sabe alcançamos o próximo? Se bem que não tenho certeza de que ele
passará. Enfim, não custa verificar o itinerário. Mas perder o bonde porque
dormimos é se antecipar às derrotas da vida.
A fumaça dá o tom do show, mas também impede a nitidez. O que
há ali? Não consigo enxergar bem.
Acordar para vencer. Ou seria
vencer para acordar?
Dormir para esquecer. Ou seria
esquecer para poder dormir?
A realidade que se mistura com a
utopia porque a realidade é uma utopia.
A percepção rompe padrões. Mas só
se alguém deixar...A percepção traz a interpretação que traz a escolha.
É preciso tecer os nossos
bordados internos para descobrirmos as nossas costuras. Costuras que costuram.
Costuras que descosturam. Costuras que embelezam. Costuras que enfeiam.
Costuras que ficam à mostra. Costuras que ficam escondidas.
Só passeando dentro da gente
vamos, de verdade, nos conhecer. Precisamos colocar uma poltrona dentro de nós
para assistirmos a tudo, assistirmos às nossas reações.
Nossos pequenos abismos que
habitam dentro da gente. Estes abismos são riquezas brutas que ainda não
tivemos tempo de lapidar porque estávamos verificando o nosso Facebook.
Nossos problemas nos constroem. Mas
esta construção é lenta, bem lenta.
“Não dá para pular algumas etapas?
”, alguém pergunta. “Claro, Senhor, podemos fazer um desconto de 10 etapas e o
restante parcelar no cartão em seis vezes sem juros. ” “Ah, que ótimo, vou levar.
”
É preciso coragem para atravessar
a ponte e voltar de lá para povoar os terrenos desconhecidos. Mas para ir e
voltar da ponte é preciso estar conectado com a verdade. Mas a verdade de quem?
A nossa.
Os estranhos se falam porque os que
se conhecem estão ocupados no WhatsApp.
Quem são os nossos heróis? Mas a
pergunta é: temos heróis? Temos que ter heróis?
Nossos heróis são os que nos
permitem sonhar. São os que enxergam a nossa alma.
São os que sabem ler e ouvir os
nossos silêncios. São os que completam os nossos vazios.
São os que descobrem terrenos
férteis em nós e tiram a placa de “aluga-se”.
São os que nos ensinam a
conversar com a nossa escuridão. E o melhor: nos ajudam a localizar o
interruptor. São os que chegam quando todos já se foram.
Irregularidades: uma das grandes
verdades de nossas vidas. Queiramos ou não. Se quisermos acertar e trilhar o
caminho da regularidade, o caminho da irregularidade deverá ser percorrido
antes, bem antes.
Enfim, quero encerrar este texto,
mas não a reflexão com um pensamento de Dostoiévski, escritor russo, que
diz: “é preciso encher minhas medidas”.
Como estão as nossas medidas? A resposta
cabe a cada um de nós.
Que saibamos ocupar todos os
espaços e preencher as nossas medidas com o sabor e o cheiro da vida. Somente
desta forma, acredito, poderemos dizer que vivemos.
Uma vida de retas, curvas, altos,
baixos, solavancos, quedas e subidas. Uma vida cheia de irregularidades que nos
movem, que nos transformam, que nos formam.
A irregularidade é o caminho para
“o encher minhas medidas. “ Fora isso, só a vaidade de acreditar numa vida sem
curvas e sem paradas. Numa vida linear. Numa vida sem solavancos.
Acreditar nisto é ter morrido sem
saber.