A imagem acima, disponível na
internet, me faz pensar que queremos as coisas no lugar. Mas somente quando as
coisas estão desarrumadas é que conseguimos perceber a necessidade de
arrumá-las e assim fazemos.
A ordem é aparente. Ela existe
muitas vezes para mascarar a desordem que vai em nós. Na ordem eu não preciso
explicar; na desordem, preciso dizer onde estão as coisas.
Gostamos da ordem talvez porque
nos dá a sensação de entrega, de compromisso realizado. Mas é a desordem que
nos leva a entregar o que realmente importa.
Assustamo-nos com os paradoxos,
com as incoerências, com as antíteses. Mas o que é a vida?
Antíteses, contradições e
incoerências que tentamos, a todo o momento, transformá-las em ordem, simetria
e coerência.
A ordem é uma ilusão.
Precisamos nos reconciliar com os
paradoxos. Mas se fizermos isto, eles deixarão de existir. E eles são
importantes porque nos fazem compreender que ainda não estamos prontos, que
ainda estamos em construção. E a construção traz possibilidades.
“Já estou cheio
de me sentir vazio...”, diz a música. E alguém também disse que o melhor
discurso é o silêncio. Aliás, quantas coisas o silêncio diz. Acho que por causa
disto ele incomoda tanto. Falamos bobagens só para esmagá-lo. Quanta insensatez!
Deixe que o silêncio da pausa traga a profundidade real da conversa. Deixe
espaço para o silêncio.
Daniel Goleman
diz que vivemos numa época sem “vazios”, sem silêncios devido ao excesso de
informações. Mais paradoxos. É preciso entender e considerar o que o silêncio
pode nos oferecer. Quando existimos num ambiente em que não paramos de
responder a estímulos acústicos, diz ele, passamos, apenas, a reagir às coisas,
levando ao medo da reflexão porque estamos vivendo num mundo de pensamento
contínuo, não valorizamos o silêncio. Sábio ele.
Quando os
responsáveis pela criação da constituição dos Estados Unidos estavam reunidos,
mandaram cobrir a rua de terra para abafar o barulho feito pelas carruagens,
facilitando, assim, o pensamento deles. Pois é, sem comentários...
Quando alguém
vê uma cadeira vazia diz: “tem alguém sentado aqui?” Respondemos: “não, pode se
sentar”. Deveríamos dizer: “sim, esta cadeira está ocupada para o silêncio. Ele
foi até ali mas já vai voltar”. Mas não é o que acontece. O silêncio às vezes
volta, mas o seu lugar está ocupado. Sempre achamos que precisamos preencher os
espaços das conversas. O silêncio é necessário. Mas o que fazemos com o
incômodo que ele traz? Outro paradoxo.
Precisamos ouvir o silêncio do
outro e o nosso também. Ouvir o silêncio? Como é que se faz isto mesmo?
Esqueci.
Ouvir o
silêncio me faz pensar na diferença entre velocidade e pressa. Ficamos
apressados não porque temos muito o que fazer, mas para não parecermos ociosos
perante a sociedade. Mas a ociosidade
faz parte, sabemos disto. Mas alguém tem coragem de dizer? Alguém disse uma vez
que vivemos num “teatro da pressa”, e tirar o pé do acelerador é imprescindível.
Se a sua ociosidade te levar a uma inércia ativa, você chegará mais rápido que
muita gente. E não é isto o que a gente quer? Chegar antes? Mas chegar antes
não adianta muito, porque vamos precisar esperar a festa começar...
Queremos certezas, mas adoramos
surpresas maravilhosas! Queremos o previsível para não termos de pensar muito.
Pensar dá um trabalho! Além disto, o pensamento pode me perguntar coisas que eu
provavelmente não saberei responder. E como quero sempre ter as respostas,
mesmo sem saber quais são as perguntas, certamente vou me incomodar. Então
deixa para pensar depois.
Esquecemos de coisas que
queríamos nos lembrar e nos lembramos de coisas que queríamos nos esquecer. Outro
paradoxo.
Mas de onde menos se espera, vem
a ajuda. Não da tartaruga, porque ela anda bem devagar, porém é a que mais
longe chega.
A ajuda vem da nossa fé que,
independentemente da religião ou não de cada um, sempre nos impulsiona a
acreditar e a esperar pelo melhor.
O milho da pipoca te apresenta o
que está por vir, mas o gosto da pipoca estourada mostra que você chegou lá,
que você conseguiu. Outro paradoxo.
Milho da pipoca = oportunidade,
esforço, começo.
Pipoca = resultado.
Oportunidade e esforço x
resultado: queremos a pipoca pronta. O ato de abrir a embalagem, colocar o óleo
na panela, sal e aguardar alguns minutos são coisas do passado. Podemos,
também, fazer a pipoca no micro-ondas. É mais rápido. Assim ela ficará pronta
mais rápido; assim o nosso prazer poderá ser saciado mais rápido; assim matamos
a nossa vontade de comer pipoca mais rápido; e assim chegamos mais rápido ao fim...
Precisamos parar um pouquinho de
correr e desfrutar mais a paisagem...
A pipoca pronta me permite
participar deste mundo de excessos e de aparências. Tenho coisas para mostrar! O
que importa o esforço do estouro e da construção? Isto ninguém vai ver. A
pipoca pronta sim, todos irão ver. Então é nisto que vou colocar o meu esforço
e minha dedicação. Uma vez alguém disse: “não importa que você não tenha. O
importante é parecer que tenha.” Outro paradoxo.
Em muitas situações, o esforço
não é valorizado, apenas a entrega. Que ironia, não?! Como entregar sem se
esforçar? Como colher a maçã do pé sem plantá-la? Como assistir ao filme sem
ligar a televisão? Como aprender a falar sem ouvir? Ouvir? Artigo de luxo este.
Ainda existe? Acredito que sim, para aqueles que valorizam o esforço.
Por que o esforço não é
valorizado? Porque a entrega aparece mais e ela já vem com aquele cheirinho de
pipoca pronta e estourada.
Quem é mais valorizado: quem faz
o gol ou quem deu o passe? Deveriam ser os dois, porque um não existiria sem o
outro. Mas na nossa cultura do parecer e dos paradoxos, o mais valorizado é
quem faz o gol porque ele entregou algo. E quem deu o passe, se esforçou,
apenas (!). Deu uma “bela” assistência, diriam os locutores e comentaristas
mais atentos. E é só! Mas acho que o passe deveria ocupar um lugar de destaque nesta
nossa sociedade de desiguais. O esforço me leva à conquista e não o contrário.
Somos cobrados pela entrega, pelo
resultado, mas não importa o esforço. Isto é com você. Ninguém quer saber.
Para quererem saber do seu
esforço vão precisar saber dos seus erros. Erros?! Só quero saber dos fins e não dos meios. Errar
é coisa para gente fraca e sem competência, já ouvi gente falando isto. E não
foram poucas, não. Quanta arrogância!
Quantas contradições, quantos
paradoxos, quantas antíteses. Alguns
estudiosos classificam estes três ora como sinônimos ora como contrapontos. Se
nem eles, os entendidos, se entendem...
Valorizamos a ordem, mas criamos
a desordem. A desordem é boa? Sim, claro. Já diz o escritor que “o caos cria”.
Mas vamos devagar com isto, por favor, que o santo é de barro.
Aliás do barro também se cria.
Os paradoxos nos fazem sentir a
realidade, nos fazem sentir que estamos inacabados. Buscamos os contrapontos e
os extremos para encontrarmos o nosso equilíbrio e quem sabe, a partir disto,
criarmos.
Numa cultura do parecer, o que
menos importa é o ser. Outro paradoxo.
Fazemos regime porque vivemos
cheios de excessos. Vou começar o meu na segunda-feira.
O humor é sinal de inteligência.
Mas os humoristas são os menos valorizados na nossa sociedade. Filme de humor
ganha prêmio? Eu não me lembro. Adoramos rir, mas não levamos a sério aquele
que faz muita graça. O drama ainda dá muita credibilidade.
Queremos as grifes e as coisas
caras porque criam uma falsa imagem sobre quem somos. Usar uma roupa cara,
frequentar lugares caros, ir a Paris como quem vai à esquina e ter feito um mestrado
no exterior nos isenta de darmos satisfações. Tive uma professora maravilhosa
na Faculdade que dizia (ironicamente, claro): “O bom de ser Doutora é que
ninguém te questiona.” E aí ela continuava: “...porém deveria ser o contrário:
quanto mais se estuda, mais você deveria ser questionado...” enfim, outro
paradoxo.
Temos celulares cada vez mais
modernos e velozes, mas estamos nos sentindo cada vez mais sozinhos e isolados.
Os celulares são tão modernos que não tenho mais tempo para falar com você.
Falo pelo WhatsApp, mesmo. “Ué, não é
pra isto que ele serve?”, alguém disse uma vez.
Desculpe, mas o WhatsApp deveria ser o meio e não o fim.
Mas enfim... Fim e enfim. Fim encerra; enfim continua. São os paradoxos.
Precisamos nos acostumar com eles porque somos um deles. E pelo jeito eles não
vão embora tão cedo. Sabe aquela visita que chega no café da manhã e fica para
o jantar? Pois é...
Dormimos até tarde e depois
dizemos que o dia passou tão rápido...
Faço selfie para disfarçar minha realidade. Está todo mundo tão bem!
Também preciso fazer parte disto! Porque se sentir triste e infeliz é tão fora
de moda! O bacana é ser perfeito e mostrar isto para todo mundo. Sim, claro, se
eu não mostrar, qual terá sido a graça? Não basta eu ter ido para a Europa,
preciso mostrar que fui.
Precisamos descobrir a beleza da
imperfeição.
Um dia alguém me viu escrevendo a
lápis e me falou que o lápis cairia em desuso. Pois é, agora o último celular desta semana tem uma
canetinha bem charmosa para você ter “precisão na escrita”, diz a propaganda.
Mas eu já não sabia escrever? Pena que eu não mais encontrei aquela pessoa.
De qualquer forma tem o tablet, para quem se assustou com a
ideia do lápis.
A canetinha deste celular desta última semana só me
mostrou aquilo que sabemos: que os excessos de nossas vidas deveriam nos
conscientizar sobre as nossas carências. Mas como vou ver minhas carências se a
minha agenda está lotada de compromissos? Quem tem muita prioridade, na verdade
não tem nenhuma.
Assim como a canetinha deste celular desta última semana voltou,
acontece em vários outros setores. Na moda, por exemplo, eles dizem que algumas
peças são uma “releitura” dos anos 60, 70, 80. Ah, tá...releitura...
Ah, claro, já ia me esquecendo da
vitrola...mas que agora é chamada de “retrô”, acho que é para ficar mais chique.
Outro paradoxo. Os entendidos do assunto garantem que há diferença.
Se voltou é porque não deveria
ter saído. Pode ser. Outro paradoxo.
O analfabetismo ainda me mostra
que eu deveria escrever mais a lápis, pois ainda não estou pronta para entender
coisas mais complexas.
Consideramo-nos civilizados, mas
a tropa de choque precisa ir ao estádio de futebol acalmar os ânimos dos mais
afoitos.
Vamos a Black Friday, mas de verdade, muitos de nós nem sabem o que isto,
de verdade, significa. Por que black
e não blue, por exemplo? Então...
Queremos morar num bom bairro,
mas colocamos grades nos portões.
Quero ter um bom carro, mas faço
um empréstimo para pagar o IPVA e o seguro. E olha que o crédito está difícil,
agora. Talvez eu não consiga o valor e vá precisar vender o carro para andar de
metrô.
Aliás, no metrô, muitos dizem
andar somente porque hoje é o rodízio deles...Puxa, haja rodízio!
Não assistimos ao programa Sílvio
Santos, só estamos dando uma passadinha no controle...
Falo o que dá estatus... o que
aparece. Aliás estatus se escreve assim mesmo, estatus. A marcação do Word foi intromissão da parte dele. Ele
insiste nisto. Você escreve e ele sublinha. Escrever status ao invés de estatus dá mais estatus porque será em inglês. Ah,
sim, agora entendi. Mas vou escrever estatus, mesmo que isto não dê estatus.
Porque é o certo. Estatus é uma palavra aportuguesada.
Por que escrever em inglês? Outro paradoxo.
Uma vez, participando de uma
reunião no trabalho, alguém disse que uma determinada pessoa tinha cursado uma
faculdade no exterior. E aí a outra pessoa disse: “ah, sim. Qual foi o curso
que ela fez e aonde ela se formou?” A outra pessoa então respondeu: “Sei lá, mas
o que importa é que foi no exterior”. Se isto é o que importa, é bom revermos
muitas coisas...
A grama do vizinho é sempre mais
verde que a nossa. Por quê?
No metrô de Nova Iorque (Iorque e
não York) há algum tempo tinha placas dizendo: “cuidado com os ratos”. Que
aviso meigo, não? Está certo que temos problemas aqui, de toda ordem, é só
escolher, mas dizer que tudo de lá é melhor já não é um pouco demais? Outro
paradoxo!
Imagine-se tomando um metrô em
Nova Iorque e um ratinho entra para te fazer companhia...e olha que não será o
Mickey, porque ele está na Disney...Nova Iorque fica um pouco longe de lá...
Buscamos a lógica, mas a questão
toda é: tem lógica?
Vamos à igreja no dia de Santo
Expedito, 19 de abril, mas furamos a fila para conseguirmos entrar sob a
desculpa: “beijar a imagem”. Será que é isto o que Santo Expedito quer de nós? Outro
paradoxo.
Temos excelentes hospitais,
universidades e restaurantes mas só para quem tem dinheiro. A excelência parece
que pertence a uma classe social, apenas. Parece-me que é isto, não quero
julgar...
O café já foi o vilão da
alimentação, depois o bonzinho, agora parece que voltou a ser mau.
O Líder de verdade exemplifica no
bem; o Líder de mentira faz pressão e é vaidoso. Líderes de verdade que deveriam
estar lá mas não estão; Líderes de mentira que estão lá mas não deveriam estar.
Que vergonha. Por que eles não pedem para sair? Acho que esta frase é só para o
filme, mesmo, Tropa de Elite. E aqui falo sobre Liderança de forma geral, na
Política, nas Empresas...eles devem saber bem sobre o que estamos falando. Mas
está escrito no quadro da parede da Empresa que há Liderança. Só nos resta
saber a qual Liderança eles se referem... Enfim, outro paradoxo.
Acho que os maus Líderes não
pedem para sair porque hoje sairá o valor dos dividendos deles.
Somos cobrados para trabalharmos em
time mas somos avaliados individualmente. Falam pra gente que não, mas a
verdade é que somos sim...Incentivam a competição descaradamente, e por
sobrevivência, muitas vezes, erramos a mão e não trabalhamos em time. Mas eles
dizem que este é o desafio e falam que contam com você. A teoria é tão distante
da prática...
O imposto é pago por vários
motivos, e talvez um deles deveria ser para fazer o certo.
Quem mais tem é o que mais ganha
porque é o que tem mais chances. Além disto, seus ovos estão espalhados por
várias cestas.
Precisamos criar um sistema de
cotas, senão a educação ficará para um lado só da moeda.
Rimos muitas vezes para não
chorarmos. Os noticiários que o digam...
Quanto mais damos, recebemos.
Será? Com o apoio e suporte da fé, sim, acreditamos nisto. Mas se não fosse a
nossa fé...Tanto isto é verdade que acabamos de pagar a nossa conta de luz com
aumento, e o nosso governo aprovou aumento de verba para todos os partidos
políticos! Haja fé para acreditar. Como diz Renato Russo, “nem o Santo tem ao
certo a medida da maldade”. Alguém dá o sinal, por favor, para eu descer?
Aliás, já dei o sinal em outro texto. Outro paradoxo.
Ainda bem que o paradoxo
significa ausência de nexo ou lógica, porque a gente não vai entender mesmo,
não é? Precisamos aprender a discutir o “não” com significado, aprender a
discutir o paradoxo com significado e não fugirmos dele.
Amar ao nosso próximo. Como é que
faz isto?
A ignorância é uma bênção. Depois
a gente fala: jura? Poxa, eu não sabia...
Nem sempre o time que mais tem
posse de bola é o que ganha o jogo.
Mantenha a coragem mas sem
questionar a realidade. Outro paradoxo.
Tem uma frase que diz que
antigamente tínhamos tempo. Hoje temos relógio. O tempo. Você já passou pela
experiência de falar com alguém enquanto este alguém digita um e-mail e te diz: “pode falar que estou
te ouvindo”.
A cultura
digital é uma fonte de interrupção constante, que tem a ver com a pressa, com
os paradoxos. Depois o cardiologista nos chama de sedentários...Sedentário, do
latim, era somente o homem que trabalhava sentado...só isto, meu Deus! Quem
deturpou o valor desta palavra? Outro paradoxo.
Fazemos o que
podemos para termos seguidores nas redes, e assim a nossa reputação ficará em
ordem.
Enfim, está
muito complicado isto. Como diz Richard Bach, no livro Biplano, “...vou descer,
e assim garantir o meu progresso até aqui”.
Acho que o equilíbrio nos
ajudaria a entender os paradoxos. Mas o problema do equilíbrio é que para se
chegar até ele, precisamos ir para o meio. E para isto, precisamos saber o
início e o final. Alguém se habilita? Outro paradoxo...