domingo, 12 de abril de 2015

Nem se fosse um Persa

Não sei quem disse esta frase, mas certamente é uma pessoa que sabe das coisas.
Por que a palavra “tapete” e não outra palavra? Por que estamos puxando tapetes? Por que puxam o nosso tapete? Por que ficamos bravos quando puxam o nosso tapete e não quando puxam as nossas cadeiras? Puxam as cadeiras para eu me sentar, mas puxam o meu tapete para eu tropeçar. Interessante.
Fiquei com uma pulga atrás da orelha (aliás, por que pulga e não outro inseto?). Fico devendo esta informação porque agora vou atrás do tapete. Acredito que é mais comum puxarem o nosso tapete do que ficarmos com pulgas atrás de nossas orelhas. Então, acho que a pulga pode esperar...
Fui buscar a origem sobre a criação dos tapetes, como eles surgiram na humanidade. E vi que identificar esta origem é bem difícil. Os historiadores não conseguem chegar a um consenso, apenas falam que os tapetes começaram a ser feitos no Oriente há mais de mil anos. Puxa, quanto tempo! Será que naquela época, eles poderiam imaginar que um dia, numa época não muito distante, usaríamos a sua linda criação como sinônimo de passar o outro para trás ou como uma simples inveja básica? Acho que não...
Etimologicamente, vejam que interessante: a palavra “tapete” vem do latim tappetum, do grego tapes, que significa “coberta”. Alguns historiados trazem o sinônimo de “proteção”.
Humm...já começo a fazer algumas associações...Quando puxam o nosso tapete nos sentimos descobertos, desprotegidos, invadidos, desrespeitados, expostos...
E esta invasão que sentimos quando somos expostos vem sempre sem avisar. Lógico. Ninguém avisa pra gente: “olha, vou puxar o seu tapete daqui a cinco minutos.” Não. A puxada de tapete vem sem avisar, pelo menos, a olhos vistos. Talvez haja sinais de que isto possa acontecer, mas muitas vezes será difícil perceber.
“Puxar o tapete”, literalmente, é tirar a cobertura dos seus pés, a sua proteção, e te expor ao ridículo, à vergonha, ao inesperado. No popular, ser pego de calças-curtas, no contrapé. É tirar o seu apoio, a sua segurança. E como nos dá segurança um tapete quentinho, fofo, limpo que acolhe os nossos pés!  Só que infelizmente esta “segurança” que o tapete proporciona não existe, muitas vezes. É preciso estar atento a isto. Acreditamos ingenuamente na proteção daquele tapete, mas não podemos nos esquecer de que existem pessoas que adoram puxá-lo.
Eu diria que não é uma diversão muito saudável esta de puxar o tapete dos outros. Mas tem gosto pra tudo e é preciso estar atento a isto, a estes gostos “inusitados”. Portanto, o importante não é a puxada de tapete em si, porque isto vai acontecer, mas sim o que VOU fazer quando puxarem o meu tapete.
Não está em minhas mãos controlar a “puxada de tapete”, mas o que vou fazer com esta situação sim, está em minhas mãos. Parece óbvio, mas não é muito o que fazemos. Geralmente quando puxam o nosso tapete ficamos desnorteados, confusos, perdidos, envergonhados e abalados. Principalmente se tiram o nosso tapete na frente de terceiros. Também pudera. Somos humanos. Sentimos raiva.
Num primeiro momento é muito importante acolher todos estes nossos sentimentos, mas depois precisamos reagir. Sei que não é fácil. Mas alguém falou para nós que seria? Bem-vindos ao mundo real!
Vivemos num mundo de dualidade: o bom e o mal, o claro e o escuro, o egoísmo e a caridade, a solidão e o companheirismo, a falta e o excesso, o alto e o baixo. Exatamente por vivermos num mundo de dualidades não podemos criar a ilusão de que os pássaros sempre cantarão lá fora e o cor-de-rosa da minha parede ficará sempre intacto. Não. Algumas vezes os pássaros se recusarão a cantar e ao sair, a minha parede cor-de-rosa estará pixada com palavras maldosas.
A ausência do canto dos pássaros e a minha parede pixada me fazem voltar à realidade deste nosso mundo dual. Os pássaros existem, graças a Deus! E o cor-de-rosa também. Ótimo. Mas se os pássaros não quiserem cantar? E se pixarem a minha parede? Terei dois caminhos: incentivar os pássaros a voltarem a cantar, talvez abrindo a minha janela, ou trancar mais ainda a minha porta para eles se esquecerem de mim. E a pixação? Ah...bem, posso ir lá na esquina comprar mais tinta e terminar o belo serviço que começaram ou pintar a minha parede de cor-de-rosa de novo, mesmo que isto custe nova pixação.
Nietzsche já dizia: “precisamos deixar de ver a dor como um mal e sim como uma força”. Se ele estivesse vivo, perguntaríamos a ele: “como se faz isto?”. Bem, Nitze não está aqui para nos responder. Mas talvez haja dois caminhos a se percorrer:
-          olharmos a dor sem dramatizá-la; e
-          olharmos a dor sem nos vitimizar.
O drama e a vitimização só são bonitos na arte. Na vida real, o drama nada tem de belo. E se vitimizar, então, é pedir para morrer a cada dia. É preciso reagir se queremos estar aqui por mais tempo para contarmos nossas histórias para quem quiser ouvi-las.
Os psiquiatras dizem que não há cura para a dor, para o mal. O que há são destinos que você pode dar a eles. Belo choque de realidade. Voltamos, então, à questão principal deste texto: não consigo evitar o mal, muitas vezes, mas consigo dar um destino a ele que seja menos doloroso pra mim. Isto está em minhas mãos.
A questão é sempre a mesma: o que você vai fazer com isto? Esta segurança que buscamos no tapete é ilusória. Acreditar nisto é uma ilusão. Precisamos estar preparados. Nem sempre conseguimos mas só o fato de buscarmos este preparo já nos faz pessoas menos vulneráveis, menos propensas ao drama e à vitimização. Vamos, no mínimo, parecer mais fortes. E esta força pode afastar os pixadores de plantão.
O tapete é só um tapete e não a representação de uma segurança que quero ter. Não podemos exigir isto dele. É uma falsa segurança acharmos que o nosso tapete está lá, paradinho, nos dando apoio e só esperando a nossa chegada. Mesmo que seja um Persa!
O que vamos fazer? Tornarmos reféns? Se acreditarmos muito na maciez, no conforto e na segurança que os tapetes nos proporcionam, sim, seremos reféns.
Puxar o tapete de alguém é silencioso, ninguém precisa saber que fui eu. É um ganho imediato: puxo o tapete, prejudico o outro e ganho vantagem. Já abrir portas e puxar cadeiras é muita exposição, todo mundo vai saber que fui eu. Além do mais, é uma ação que não tem ganho imediato: puxar cadeira pra alguém? Pra quê? O que eu vou ganhar com isto? Abrir a porta? Estou muito ocupado com politicagens para ter tempo de abrir portas. Abrir portas tem ganhos a longo prazo. Puxar tapetes tem “ganhos” a curto prazo. E na nossa cultura do fast, falar de longo prazo dá uma canseira...parece aquele domingo preguiçoso que se estica no sofá. Deixa pra lá. Vamos logo com isto. Acabe logo com isto. Puxe o tapete logo porque a gente tem muita coisa pra fazer.
Deixo o abrir de portas para quem tem tempo. Se a sua porta me oferecer algo, até te faço este favor de abri-la. Mas enquanto isto, puxe você a sua cadeira e abra as suas próprias portas. E de preferência, não obstrua o meu caminho com a sua porta e com a sua cadeira, senão alguns tapetinhos serão puxados...principalmente se não forem persas. Se forem, até conversamos, mas caso contrário, serão puxados com a classe e com a categoria de que quem coloca muita coisa embaixo do tapete.
Colocar a sujeira embaixo do tapete: você sabia que existe o termo tapetear, que foi originado de tapete? Significa fazer uso de meios duvidosos e/ou ocultos para obter algo, e logo em seguida, dar uma aparência de ordem. Socorro! Alguém dá o sinal pra eu descer, por favor?
Que interessante! Logo quando alguém puxa o nosso tapete coloca o que fez (desonestidade) embaixo dele para não ser descoberto. E às vezes ninguém descobre mesmo. Coitado do tapete, ainda por cima ser feito de cúmplice. Que destino triste o dele! Acho que se o tapete pudesse falar diria: “não tenho nada a ver com isto. Alguém me tira daqui, por favor?”
Tudo isto me remete a uma palavra só: inveja. Há várias definições pra ela. Mas acho que a interpretação mais forte para inveja é aquela que o invejoso não se sente capaz, é um infeliz, na concepção do termo. É aquela pessoa que está longe de sua essência, daquilo que a completa, daquilo que traz sentido à vida dela.
O invejoso se distancia de quem ele poderia ser se não fosse este sentimento que o corrompe e que o consome, que o faz querer ser alguém que nunca irá ser. O invejoso é aquele que olha só para o que o outro tem e conquistou e se esquece de suas próprias conquistas e habilidades. E o mais perigoso: nesse imbróglio que o invejoso está, ele acha que o outro o está atrapalhando. Como ele não tem (ele acha que não tem), entende que o outro também não deve ter. É uma doença. É uma tristeza que ele sente pelo sucesso alheio. Você já percebeu como o invejoso ataca? Ele não vai atacar o mal que você faz, suas fraquezas, ele ataca o bem e o sucesso que você faz. Ele tenta destruir o sucesso que você construiu.
Lembrei-me de uma historinha que reflete bem isto. Diz assim:
Quem tem luz própria sempre incomoda aqueles que não têm
Conta a lenda que uma serpente começou a perseguir um vaga-lume. Ele fugia rapidamente da feroz predadora, mas ela não desistia.
No primeiro dia, ela o seguia. No segundo, ela o seguia... No terceiro, já sem forças, o vaga-lume parou e falou à serpente :
- Posso te fazer três perguntas?
E a serpente respondeu:
- Não estou acostumada a dar este precedente a ninguém. Porém, como vou te devorar, pode fazer a sua pergunta.
E assim o vaga-lume perguntou:
- Pertenço a sua cadeia alimentícia?
- Não, respondeu a serpente.
- Eu te fiz algum mal? Disse o vaga-lume.
- Não. Tornou a responder a serpente.
- Então por que você quer acabar comigo?
- Porque não suporto ver você brilhar.
Ou seja, esta história só reforça o que a Escritora Ayn Rand fala sobre o pior mal da humanidade sobre o ataque à habilidade do outro, ou seja, a era da inveja. Isto é a coisa mais imoral que existe, diz ela, ou seja, atacar um homem não por suas falhas, mas por suas virtudes. E não é o que o invejoso faz? O que puxa o tapete? Estejamos atentos às serpentes e às pequenas cascas de bananas que colocam no nosso caminho...
Abaixo listo algumas “sutilezas” que podem sinalizar que uma puxadinha de tapete básica está se aproximando de você. Caso você se identifique com algumas delas, cuidado, porque não é mera coincidência. É realidade mesmo! Lembrando que são sinais e que podem servir tanto para percebermos quando querem puxar o nosso tapete tanto quanto para percebermos se nós é que não somos o problema...se estamos puxando alguns tapetinhos ...
Aí vão:
- aquela pessoa muito crítica e nada construtiva (sempre a mesma pessoa critica o seu trabalho, nunca está bom, sempre vê defeitos naquilo que está bom e que você recebeu diversos elogios de outras pessoas);
- aquela pessoa que, de repente, resolve ficar sua amiga (o) demais, quer se tornar íntimo;
- aquele muito perguntador, que quer saber muitas coisas a seu respeito, principalmente no quesito “vida particular”;
- aquele que se faz de amigo, oferece ajuda e depois fala para o seu Gestor que não conseguiu fechar determinada tarefa porque precisou te ajudar;
- aquele que espera você entrar em férias para contar fofocas e falsidades;
- aquele que te elogia demais, exagera na tinta, mas por trás fala mal de você, te critica;
- aquele que coloca várias palavras na sua boca, que distorce suas falas e depois você precisa ficar se explicando;
- aquele que fala várias coisas para te desestabilizar mas diz que é “para o seu bem”;
- aquele que te prejudica, te coloca numa “roubada”, definitivamente, e aí vem com aquela conversa: “eu sei que você vai conseguir. Este é o desafio! Este trabalho tem a sua cara, só você vai conseguir isto. Seja um protagonista!”;
- aquele que, de tanta inveja que tem de você, só te dá trabalhos menores pra fazer sob a alegação de que você está “ainda” se desenvolvendo;
- aquele que gruda em você para aprender o seu trabalho e começa a dar sugestões demais com a intenção de pegar o seu lugar;
- aquele que fala que você nunca vai conseguir, fala pra você desistir. Lembre-se que a crítica em excesso e de forma errada é capaz de destruir qualquer iniciativa;
- aquela que diz que seu cabelo está ótimo (e no fundo não está) somente para que você seja uma a menos na concorrência.
Bem, o que sei é que o potencial de um indivíduo é desperdiçado quando ele se afasta de sua essência, pois ele gasta tanto tempo colocando e mantendo suas armaduras que se esquece do que realmente importa: viver bem e crescer corajosamente.
Penso também que estas atitudes de puxar o tapete do outro passam pela falta de educação, literalmente. Não fomos educados a valorizarmos atitudes para um olhar coletivo, num mundo de subjetividade. Precisamos buscar sermos mais solidários. O que realmente faz a diferença num mundo onde todos estão padronizados? As atitudes. As boas atitudes.
Num mundo aonde se busca o destaque, o auto centrismo, sair do lugar comum e querer diferenciar-se pelo bem me parece ser a melhor opção. Como disse Walt Disney: “Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é menor”.
Parafraseando Disney, já temos concorrentes demais puxando tapetes. Se optarmos por puxar mais cadeiras e não tapetes, quem sabe os pássaros voltarão a cantar e a parede cor-de-rosa poderá ter sua paz reconquistada?

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