Não sei quem
disse esta frase, mas certamente é uma pessoa que sabe das coisas.
Por que a
palavra “tapete” e não outra palavra? Por que estamos puxando tapetes? Por que
puxam o nosso tapete? Por que ficamos bravos quando puxam o nosso tapete e não quando
puxam as nossas cadeiras? Puxam as cadeiras para eu me sentar, mas puxam o meu
tapete para eu tropeçar. Interessante.
Fiquei com uma
pulga atrás da orelha (aliás, por que pulga e não outro inseto?). Fico devendo
esta informação porque agora vou atrás do tapete. Acredito que é mais comum
puxarem o nosso tapete do que ficarmos com pulgas atrás de nossas orelhas.
Então, acho que a pulga pode esperar...
Fui buscar a
origem sobre a criação dos tapetes, como eles surgiram na humanidade. E vi que
identificar esta origem é bem difícil. Os historiadores não conseguem chegar a
um consenso, apenas falam que os tapetes começaram a ser feitos no Oriente há
mais de mil anos. Puxa, quanto tempo! Será que naquela época, eles poderiam
imaginar que um dia, numa época não muito distante, usaríamos a sua linda
criação como sinônimo de passar o outro para trás ou como uma simples inveja
básica? Acho que não...
Etimologicamente,
vejam que interessante: a palavra “tapete” vem do latim tappetum, do grego tapes, que significa “coberta”.
Alguns historiados trazem o sinônimo de “proteção”.
Humm...já começo a fazer algumas
associações...Quando puxam o nosso tapete nos sentimos descobertos,
desprotegidos, invadidos, desrespeitados, expostos...
E esta invasão que sentimos quando somos expostos vem
sempre sem avisar. Lógico. Ninguém avisa pra gente: “olha, vou puxar o seu
tapete daqui a cinco minutos.” Não. A puxada de tapete vem sem avisar, pelo
menos, a olhos vistos. Talvez haja sinais de que isto possa acontecer, mas
muitas vezes será difícil perceber.
“Puxar o tapete”, literalmente, é tirar a
cobertura dos seus pés, a sua proteção, e te expor ao ridículo, à vergonha, ao
inesperado. No popular, ser pego de calças-curtas, no
contrapé. É tirar o seu apoio, a sua segurança.
E como nos dá segurança um tapete quentinho, fofo, limpo que acolhe os nossos
pés! Só que infelizmente esta “segurança”
que o tapete proporciona não existe, muitas vezes. É preciso estar atento a
isto. Acreditamos ingenuamente na proteção daquele tapete, mas não podemos nos
esquecer de que existem pessoas que adoram puxá-lo.
Eu diria que não é uma diversão muito saudável
esta de puxar o tapete dos outros. Mas tem gosto pra tudo e é preciso estar
atento a isto, a estes gostos “inusitados”. Portanto, o importante não é a
puxada de tapete em si, porque isto vai acontecer, mas sim o que VOU fazer
quando puxarem o meu tapete.
Não está em minhas mãos controlar a “puxada de
tapete”, mas o que vou fazer com esta situação sim, está em minhas mãos. Parece
óbvio, mas não é muito o que fazemos. Geralmente quando puxam o nosso tapete
ficamos desnorteados, confusos, perdidos, envergonhados e abalados. Principalmente
se tiram o nosso tapete na frente de terceiros. Também pudera. Somos humanos.
Sentimos raiva.
Num primeiro momento é muito importante acolher
todos estes nossos sentimentos, mas depois precisamos reagir. Sei que não é
fácil. Mas alguém falou para nós que seria? Bem-vindos ao mundo real!
Vivemos num mundo de dualidade: o bom e o mal, o
claro e o escuro, o egoísmo e a caridade, a solidão e o companheirismo, a falta
e o excesso, o alto e o baixo. Exatamente por vivermos num mundo de dualidades
não podemos criar a ilusão de que os pássaros sempre cantarão lá fora e o
cor-de-rosa da minha parede ficará sempre intacto. Não. Algumas vezes os
pássaros se recusarão a cantar e ao sair, a minha parede cor-de-rosa estará
pixada com palavras maldosas.
A ausência do canto dos pássaros e a minha parede
pixada me fazem voltar à realidade deste nosso mundo dual. Os pássaros existem,
graças a Deus! E o cor-de-rosa também. Ótimo. Mas se os pássaros não quiserem
cantar? E se pixarem a minha parede? Terei dois caminhos: incentivar os
pássaros a voltarem a cantar, talvez abrindo a minha janela, ou trancar mais
ainda a minha porta para eles se esquecerem de mim. E a pixação? Ah...bem,
posso ir lá na esquina comprar mais tinta e terminar o belo serviço que
começaram ou pintar a minha parede de cor-de-rosa de novo, mesmo que isto custe
nova pixação.
Nietzsche já dizia: “precisamos deixar de ver a
dor como um mal e sim como uma força”. Se ele estivesse vivo, perguntaríamos a
ele: “como se faz isto?”. Bem, Nitze não está aqui para nos responder. Mas
talvez haja dois caminhos a se percorrer:
-
olharmos a dor sem dramatizá-la; e
-
olharmos a dor sem nos vitimizar.
O drama e a
vitimização só são bonitos na arte. Na vida real, o drama nada tem de belo. E
se vitimizar, então, é pedir para morrer a cada dia. É preciso reagir se
queremos estar aqui por mais tempo para contarmos nossas histórias para quem
quiser ouvi-las.
Os psiquiatras
dizem que não há cura para a dor, para o mal. O que há são destinos que você pode
dar a eles. Belo choque de realidade. Voltamos, então, à questão principal
deste texto: não consigo evitar o mal, muitas vezes, mas consigo dar um destino
a ele que seja menos doloroso pra mim. Isto está em minhas mãos.
A questão é sempre a mesma: o que você vai fazer
com isto? Esta segurança que buscamos no tapete é ilusória. Acreditar nisto é
uma ilusão. Precisamos estar preparados. Nem sempre conseguimos mas só o fato
de buscarmos este preparo já nos faz pessoas menos vulneráveis, menos propensas
ao drama e à vitimização. Vamos, no mínimo, parecer mais fortes. E esta força
pode afastar os pixadores de plantão.
O tapete é só
um tapete e não a representação de uma segurança que quero ter. Não podemos
exigir isto dele. É uma falsa segurança acharmos que o nosso tapete está lá,
paradinho, nos dando apoio e só esperando a nossa chegada. Mesmo que seja um
Persa!
O que vamos
fazer? Tornarmos reféns? Se acreditarmos muito na maciez, no conforto e na
segurança que os tapetes nos proporcionam, sim, seremos reféns.
Puxar o tapete
de alguém é silencioso, ninguém precisa saber que fui eu. É um ganho imediato:
puxo o tapete, prejudico o outro e ganho vantagem. Já abrir portas e puxar
cadeiras é muita exposição, todo mundo vai saber que fui eu. Além do mais, é
uma ação que não tem ganho imediato: puxar cadeira pra alguém? Pra quê? O que
eu vou ganhar com isto? Abrir a porta? Estou muito ocupado com politicagens
para ter tempo de abrir portas. Abrir portas tem ganhos a longo prazo. Puxar
tapetes tem “ganhos” a curto prazo. E na nossa cultura do fast, falar de longo prazo dá uma canseira...parece aquele domingo
preguiçoso que se estica no sofá. Deixa pra lá. Vamos logo com isto. Acabe logo
com isto. Puxe o tapete logo porque a gente tem muita coisa pra fazer.
Deixo o abrir
de portas para quem tem tempo. Se a sua porta me oferecer algo, até te faço
este favor de abri-la. Mas enquanto isto, puxe você a sua cadeira e abra as
suas próprias portas. E de preferência, não obstrua o meu caminho com a sua
porta e com a sua cadeira, senão alguns tapetinhos serão
puxados...principalmente se não forem persas. Se forem, até conversamos, mas caso
contrário, serão puxados com a classe e com a categoria de que quem coloca
muita coisa embaixo do tapete.
Colocar a
sujeira embaixo do tapete: você sabia que existe o termo tapetear, que foi
originado de tapete? Significa fazer uso de meios duvidosos e/ou ocultos para
obter algo, e logo em seguida, dar uma aparência de ordem. Socorro! Alguém dá o
sinal pra eu descer, por favor?
Que
interessante! Logo quando alguém puxa o nosso tapete coloca o que fez
(desonestidade) embaixo dele para não ser descoberto. E às vezes ninguém
descobre mesmo. Coitado do tapete, ainda por cima ser feito de cúmplice. Que
destino triste o dele! Acho que se o tapete pudesse falar diria: “não tenho
nada a ver com isto. Alguém me tira daqui, por favor?”
Tudo isto me
remete a uma palavra só: inveja. Há várias definições pra ela. Mas acho que a
interpretação mais forte para inveja é aquela que o invejoso não se sente
capaz, é um infeliz, na concepção do termo. É aquela pessoa que está longe de
sua essência, daquilo que a completa, daquilo que traz sentido à vida dela.
O invejoso se distancia
de quem ele poderia ser se não fosse este sentimento que o corrompe e que o
consome, que o faz querer ser alguém que nunca irá ser. O invejoso é aquele que
olha só para o que o outro tem e conquistou e se esquece de suas próprias conquistas
e habilidades. E o mais perigoso: nesse imbróglio que o invejoso está, ele acha
que o outro o está atrapalhando. Como ele não tem (ele acha que não tem), entende
que o outro também não deve ter. É uma doença. É uma tristeza que ele sente
pelo sucesso alheio. Você já percebeu como o invejoso ataca? Ele não vai atacar
o mal que você faz, suas fraquezas, ele ataca o bem e o sucesso que você faz. Ele
tenta destruir o sucesso que você construiu.
Lembrei-me de
uma historinha que reflete bem isto. Diz assim:
Quem tem luz própria sempre incomoda aqueles que não
têm
Conta a lenda
que uma serpente começou a perseguir um vaga-lume. Ele fugia rapidamente da
feroz predadora, mas ela não desistia.
No primeiro
dia, ela o seguia. No segundo, ela o seguia... No terceiro, já sem forças, o
vaga-lume parou e falou à serpente :
- Posso te
fazer três perguntas?
E a serpente
respondeu:
- Não estou
acostumada a dar este precedente a ninguém. Porém, como vou te devorar, pode
fazer a sua pergunta.
E assim o
vaga-lume perguntou:
- Pertenço a
sua cadeia alimentícia?
- Não,
respondeu a serpente.
- Eu te fiz
algum mal? Disse o vaga-lume.
- Não. Tornou a
responder a serpente.
- Então
por que você quer acabar comigo?
- Porque não
suporto ver você brilhar.
Ou seja, esta
história só reforça o que a Escritora Ayn Rand fala sobre o pior mal da
humanidade sobre o ataque à habilidade do outro, ou seja, a era da inveja. Isto
é a coisa mais imoral que existe, diz ela, ou seja, atacar um homem não por
suas falhas, mas por suas virtudes. E não é o que o invejoso faz? O que puxa o
tapete? Estejamos atentos às serpentes e às pequenas cascas de bananas que
colocam no nosso caminho...
Abaixo listo
algumas “sutilezas” que podem sinalizar que uma puxadinha de tapete básica está
se aproximando de você. Caso você se identifique com algumas delas, cuidado,
porque não é mera coincidência. É realidade mesmo! Lembrando que são sinais e
que podem servir tanto para percebermos quando querem puxar o nosso tapete
tanto quanto para percebermos se nós é que não somos o problema...se estamos
puxando alguns tapetinhos ...
Aí vão:
- aquela pessoa
muito crítica e nada construtiva (sempre a mesma pessoa critica o seu trabalho,
nunca está bom, sempre vê defeitos naquilo que está bom e que você recebeu diversos
elogios de outras pessoas);
- aquela pessoa
que, de repente, resolve ficar sua amiga (o) demais, quer se tornar íntimo;
- aquele muito
perguntador, que quer saber muitas coisas a seu respeito, principalmente no
quesito “vida particular”;
- aquele que se
faz de amigo, oferece ajuda e depois fala para o seu Gestor que não conseguiu
fechar determinada tarefa porque precisou te ajudar;
- aquele que
espera você entrar em férias para contar fofocas e falsidades;
- aquele que te
elogia demais, exagera na tinta, mas por trás fala mal de você, te critica;
- aquele que
coloca várias palavras na sua boca, que distorce suas falas e depois você
precisa ficar se explicando;
- aquele que fala
várias coisas para te desestabilizar mas diz que é “para o seu bem”;
- aquele que te
prejudica, te coloca numa “roubada”, definitivamente, e aí vem com aquela conversa:
“eu sei que você vai conseguir. Este é o desafio! Este trabalho tem a sua cara,
só você vai conseguir isto. Seja um protagonista!”;
- aquele que,
de tanta inveja que tem de você, só te dá trabalhos menores pra fazer sob a
alegação de que você está “ainda” se desenvolvendo;
- aquele que
gruda em você para aprender o seu trabalho e começa a dar sugestões demais com
a intenção de pegar o seu lugar;
- aquele que
fala que você nunca vai conseguir, fala pra você desistir. Lembre-se que a
crítica em excesso e de forma errada é capaz de destruir qualquer iniciativa;
- aquela que
diz que seu cabelo está ótimo (e no fundo não está) somente para que você seja
uma a menos na concorrência.
Bem, o que sei
é que o potencial de um indivíduo é desperdiçado quando ele se afasta de sua
essência, pois ele gasta tanto tempo colocando e mantendo suas armaduras que se
esquece do que realmente importa: viver bem e crescer corajosamente.
Penso também
que estas atitudes de puxar o tapete do outro passam pela falta de educação,
literalmente. Não fomos educados a valorizarmos atitudes para um olhar coletivo,
num mundo de subjetividade. Precisamos buscar sermos mais solidários. O que
realmente faz a diferença num mundo onde todos estão padronizados? As atitudes.
As boas atitudes.
Num mundo aonde
se busca o destaque, o auto centrismo, sair do lugar comum e querer
diferenciar-se pelo bem me parece ser a melhor opção. Como disse Walt Disney: “Eu
gosto do impossível porque lá a concorrência é menor”.
Parafraseando
Disney, já temos concorrentes demais puxando tapetes. Se optarmos por puxar
mais cadeiras e não tapetes, quem sabe os pássaros voltarão a cantar e a parede
cor-de-rosa poderá ter sua paz reconquistada?
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